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Previsão do tempo


  • A “moça do tempo” disse que o dia seria parcialmente nublado, com possibilidade de pancada de chuva no final da tarde. Tá. Tudo bem. Uma previsão previsível. Normal. Para cidades normais.
O problema é que naquela cidade o que pode haver de mais imprevisível é o clima. Todos os dias seus habitantes brincam um pouco de meteorologistas e fazem sua própria previsão do tempo antes de sair de casa. Não adianta muito acreditar piamente no que a moça do jornal fala. Tem gente que diz que aquilo tudo é inventado. No caso da cidade em questão, ela até acerta frequentemente. Não a totalidade da previsão. Mas pelo menos parte. É que nesse lugar, faz sol, chuva, venta, faz frio, calor, tem neblina, o ar fica seco, úmido, tudo no mesmíssimo dia. Então não fica tããããão difícil acertar pelo menos uma dessas coisas.
O problema é acertar a ordem dos fatores e carregar todos os apetrechos necessários para não ser pego de surpresa.
Por isso os habitantes têm que fazer essa previsão.
Os mais desprevenidos acordam às 7h da madrugada, olham pela janela e se deparam com um céu cinza, totalmente nublado. Já correm pro armário e pegam aquela blusa de lã com cheiro de naftalina guardada lá no fundo. Afinal de contas, com esse céu feio, não é possível que em alguma hora do dia possa fazer sol.
Ha! Vai nessa.
Vai chegando por volta das 11h30, hora de sair para almoçar, quem aparece pra brincar com a galera? O nosso amiguinho centro do sistema solar! Que beleza! Enfrentar uma maratona no centro da cidade, meio dia, o sol queimando, e você lá, com uma puta blusa de lã. A essa altura o coitado da blusa está praguejando moça do tempo, que não avisou que ia fazer sol. E sobra até pra São Pedro, com quem o rapaz esgota seu repertório de insultos. Mas São Pedro é São Pedro. E pode fazer o que quiser com o clima. Agora some os insultos proferidos pelo nosso amigo da blusa de lã e os das outras tantas pessoas que também cometeram o mesmo equívoco na hora de escolher o modelito de manhã. É. São Pedro não deve ficar muito satisfeito. Por isso, lança mão de seus poderes e faz o quê? Espera dar a hora do final do expediente, quando os pobres mortais, já suados, com as mangas das blusas de lã arregaçadas, loucos para chegar em casa, tomar um banho e tirar a inhaca, estão saindo do trabalho e presenteia a todos [até os que não tem nada a ver com a história] com uma bela chuva!
Que beleza, mais uma vez! Além de suado, ele agora está molhado. E o melhor, com uma blusa de lã, que nem fica encharcada e pesada. Imagina...
Mas não pára por aí! Ele tem que pegar um ônibus. Lotado. Com as janelas fechadas, porque está chovendo. Aí, fica aquele cheiro de pinto molhado no ar, um calor abafado e as janelas suadas. O cara da blusa de lã sai do ônibus, já próximo de casa, com a blusa ainda molhada e é surpreendido por uma rajada de vento. Dessas caprichadas.
É meu amigo. Pra você ver as voltas que a vida dá.
E só pra completar, a cerejinha em cima do bolo. Já no conforto do lar, bate aquele frio de doer. Pelo menos agora ele já está em casa e pode usar o traje mais adequado para o clima do momento.
Mas as conseqüências chegam no dia seguinte. Porque não há saúde que agüente essa amplitude térmica diária. Espirros, tosse, garganta arranhando e todos ao redor se esquivando, com medo de pegar gripe suína!
Conclusão 1: não acredite na previsão do tempo.
Conclusão 2: não tente você mesmo fazer a previsão do tempo.
Conclusão 3: saia de casa sempre com uma camiseta por baixo da blusa de lã e leve consigo, cachecol, sombrinha, óculos de sol e protetor solar.
E, finalmente, conclusão 4: não insulte São Pedro. Ele pode não gostar e descontar em todo mundo!

Elevador


Ela mora no último dos 11 andares de um prédio. Pode-se dizer que é um edifício antigo. Não a ponto de ser tombado como Patrimônio Histórico Nacional. Mas a ponto de ter um elevador que pode ser tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional. Não chega a ser do tipo com porta sanfonada, dessas que parece aquele portão que dá pro pátio do tradicional colégio de freiras da cidade. Pelo menos não na aparência. Quanto à velocidade, eu já não posso afirmar. Pode parecer exagero, mas não é. Ela que estava acostumada a morar no segundo andar de outro prédio e raramente usava elevador, se viu refém dessa engenhoca. Não era possível mais subir as escadas e chegar em casa com a agilidade de antes. Aliás, não era possível usar as escadas. Acredite se quiser. Como os seis primeiros andares do prédio abrigavam salas comerciais, havia um portão permanentemente trancado que impedia o trânsito entre as duas partes. Deste modo, as pessoas que passam pela rua e resolvem subir as escadas em direção às salas comerciais, já que o acesso a essa ala é irrestrito, e de repente são tomadas por um instinto criminoso e resolvem saltear todos os apartamentos do edifício fingindo ser o entregador de água, se deparam com uma grande grade, com uma grande corrente e um grande cadeado! É. Não tem alternativa. Ou você usa o elevador, ou pula a janela. Só que do 11º andar, convenhamos que é um tanto quanto arriscado usar a segunda alternativa. Outro dia inclusive, parou para pensar se o prédio um dia começasse a pegar fogo... Melhor não imaginar, né?! Deixa que se isso realmente acontecer, na hora ela pensa no que fazer. O fato é: só resta a esta jovem esperar pelo elevador. E, com a experiência conquistada durante um ano habitando o edifício, ela chegou a conclusão de que, para não se atrasar, é necessário sair de casa cinco minutos antes. Isso mesmo. Cinco minutos. Parece pouco, mas faça o teste: entre em um elevador moderno e cronometre quanto tempo o elevador gasta para completar o trajeto térreo-11º andar/11º andar-térreo. Garanto que não gasta isso tudo.