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Huelga General

Não sei se vocês viram no noticiário, mas hoje os trabalhadores da Espanha estão em "huelga general", ou, em bom português, "greve geral". A paralização já vinha sendo comunicada e convocada há algum tempo. Há cerca de três semanas vários cartazes começavam a ser espalhados em pontos estratégicos da cidade. Com a proximidade, as ações se intensificaram através de panfletagem e anúncio em carros de som.






A mobilização é encabeçada pela União General dos Trabajadores [UGT] e pelo Confederación Sindical de Comisiones Obreras [CCOO], que exigem uma retificação das medidas previstas na "Reforma Laboral", algo como reforma trabalhista. De acordo com os organizadores, a política do executivo só atrasa a recuperação econômica da Espanha e condena o país ao aumento do desemprego, causado pela facilidade que os empregadores vão ter para demitir seus funcionários quando a reforma for colocada em prática.


A greve é geral, mas nem todos aderiram. No comércio, pelo que eu pude ver aqui em Salamanca, assim como no resto do país, a maioria das lojas estavam abertas, já que esta foi uma das áreas menos afetadas. O setor da educação também parece que funcionou bem. Meus professores não aderiram à greve. Tive todas as aulas do dia. Um deles chegou a comentar que concorda com os motivos, mas não com a metodologia e os impactos que ela pode causar na economia [que já não vai muito bem].


Já na prestação de serviços, principalmente no setor de transporte, não foi assim. A greve interferiu e muito na vida das pessoas. Um bom exemplo é meu caso [e de mais três amigos]. Estavamos com uma viagem programada para Munich, na Alemanha. Iríamos ao Oktoberfest [sim! o original]. Escolhemos justamente o dia 29 para a viagem [porque era o dia com passagens mais baratas]. Nem nos lembramos da greve. Mas depois que ficamos sabendo dela, também não pensamos que pudesse interferir na nossa viagem, já que se tratava de um vôo internacional. Pelo menos não até ontem à noite, quando recebemos um e-mail da companhia aérea dizendo o seguinte: "Unfortunately due to the failure of the Spanish Government to protect non Spanish airline's flights with minimum service guarantees, Ryanair have been forced to cancel all domestic flights in Spain on 29th Sep and most International flights to/from Spain on 29th Sep.". O Governo Espanhol não se comprometeu a proteger os vôos de companhias aéras não espanholas com o mínimo de garantias de serviços. Por isso, a Ryanais foi forçada a cancelar todos os vôos domésticos e alguns internacionais [inclusive o meu!] do dia 29 de setembro. Além do vôo, também senti os efeitos da greve quando fui à rodoviária trocar uma passagem [a de ida pra Madri, para pegar o vôo pra Alemanha...] e a única companhia que estava funcionando era a que eu ia viajar através dela [por sorte!].


De acordo com os meios de comunicação, os sindicatos afirmam que houve uma adesão de 70% dos trabalhadores. Grupos de grevistas organizaram manifestações por todo o dia no país, inclusive nas Ilhas Canárias. Em Salamanca, cerca de 200 pessoas se aglomeraram na Plaza Mayor, pela manhã, e seguiram com a manifestação pelas principais ruas da cidade. Madri e Barcelona sediaram os maiores protestos. No rádio e na TV, os plantões sobre a greve eram quase sequenciais.


Agora ao fim do dia, os jornais destacam a fala do Ministro do Trabalho, segundo a qual a greve teve um efeito moderado e a partir de amanhã haverá muito trabalho para fazer.


A cobertura completa da greve você pode conferir no site dos dois principais jornais da Espanha, o El País e o El Mundo.

Carlos, ni olvido, ni perdón

Salamanca, mesmo sendo uma cidade muito bonita, limpa e localizada na Espanha, um país tido como desenvolvido, tem vários muros tomados por pichações. Inclusive no centro histórico. Algumas delas, a meu ver, só servem para sujar a cidade, porque ninguém entende o que está escrito, a não ser quem escreveu. Como nesse caso aí:



Outras são chamadas de "stencil". A maioria deles tem conteúdo de protesto. Um deles chamou a minha atenção. Onde quer que você vá em Salamanca, há um stencil assim:


"Carlos, ni olvido, ni perdón", algo como "Carlos, nem esquecimento, nem perdão". Ficava imaginando o que esse Carlos tinha feito de tão errado para que toda a cidade ficasse infestada dessas mensagens. Cheguei a achar que ele era o protagonista de uma lenda urbana que uma das meninas que veio do Brasil disse existir em Salamanca: um estuprador que estava desaparecido há algum tempo. 

Um dia, resolvi consultar aquele que tudo sabe, o oráculo da vida: Google! Digitei lá: "Carlos, ni olvido, ni perdón". E tive uma surpresa! O Carlos na verdade não é culpado. É vítima. Ele era um adolescente anti-fascista, que foi assassinado no metrô de Madri, no dia 11 de novembro de 2007. O autor do crime, Josué Estebanez de la Hija, na época era soldado do Exército.

Segundo as informações da internet, o militar entrou no metrô com destino à Praça de Julián Marias, onde ele participaria de uma manifestação contra a imigração, convocada pelo Democracia Nacional (DN), um partido político espanhol de extrema direita [obs: um partido que tem democracia no nome organiza um ato desse tipo?]. Durante a viagem, um grupo antifascista entra no vagão. Eles também seguiriam para a Praça de Julián Marias, com o objetivo de protestar contra a manifestação do DN.

Relatos contam que Josué retira de um de seus bolsos uma navalha, que mantem na mão escondida. Carlos Javier Palomino  entra no vagão e critica o emblema da camisa do soldado: "Three Strokes" ("Três Golpes") - uma marca do grupo fascista "Los Ultras". Josué Estébanez responde dando-lhe uma facada ao coração. 


Segue um vídeo com uma série de reportagens sobre o assunto. Ele é bem longo, mas vale a pena dar uma olhada, pelo menos no início.

Desde então, uma série de manifestações são realizadas frequentemente, por toda a Espanha, para lembrar da história de Carlos. O fato está marcado em diversas muros e paredes de todo o país. O governo de Franco, ditador fascista espanhol, acabou há cerca de 40 anos. Mas, pelo que os fatos indicam, a semente ainda está viva.


Volta às aulas, que alegria!

Enquanto meus coleguinhas no Brasil estão terminando mais um "mergulhão" (apelido dado às disciplinas práticas do final do curso), eu, em pleno dia 20 de setembro, voltei às aulas. Mais ansiosa que a caloura, vinda de Governador Valadares, no seu primeiro dia de aula na UFJF. Muuuuito mais. Por uma série de fatores:

1) Os professores não falam português. Lógico! E eu já vim pra cá sabendo disso, né?! Mas vai que eles falam rápido e usam um linguajar que eu não domino?

2) E se na sala só tivessem espanhóis que já se conhecessem e fossem "best friends forever" e eu ficasse excluída num canto, já que eles não são muito receptivos?

3) O meu espanhol nem é tão bom assim. Pelo menos eu achava isso [até conhecer os meus coleguinhas de sala]. E se tivessem mil trabalhos pra apresentar lá na frente falando em espanhol [lógico!] com todos os meus coleguinhas "best friends forever" olhando?

Bom, mas a melhor maneira de saber se as minas expectativas iam se cumprir era ir à aula. Cheguei bem cedo. Mineira, né?! Não perde o trem. Fiquei com medo de não achar a sala e ficar perdida na universidade. Bem caloura mesmo. Achei a sala fácil. Mas ainda não tinha ninguém lá. Então fui passear. Quando voltei, tinha uma menina. Pensei em perguntar se aula de "Sistemas Políticos de Europa" era ali. Mas antes que eu abrisse a boca ela veio falar comigo. A primeira coisa que ela perguntou era se eu falava inglês!!! Eu ri e disse que sim. A partir daí começamos a conversar. Em inglês. Então chegou uma loira, alta, do olho azul, sentou do nosso lado e ficou olhando. Não demorou ela entrou na conversa também. A primeira se chama Veronika e é tcheca [é inevitável não lembrar daquela canção antológica do grupo É o Tchan: "pega tcheca, solta a tcheca, leva a tcheca pra sambar, ô lá lá"]. A loira bonitona é sueca, a Linnea [pra entender que era assim o nome dela demoramos uns 10 minutos]. Não demorou chegou mais uma. Alemã. Mas do nome fácil: Maria. A partir daí nos tornamos "best friends forever"! Descobrimos que compartilhávamos dos mesmos medos. E eu descobri que o meu espanhol é "fueda"!
Cara, nego é muito doido! Vem pra cá estudar e só sabe falar "Hola! Que tal?" em espanhol. É aquela história: olha pra baixo, tem alguém te dando tchau! As meninas não entendiam nada que o professor falava. Eu tinha que fazer uma tradução simultânea. No fim do dia meu cérebro tava dando tilte. Já estava pensando em inglês e misturava português, inglês e espanhol na mesma frase.
O bom é que a sala é quase uma convenção da ONU! Gente de todo lugar do mundo. Alemanha, França, Itália, Holanda e mais um monte de lugar que eu não lembro. E três latinos: eu, um porto-riquenho [é assim que escreve?] e uma colombiana. Com esse tanto de estrangeiro o professor se mostrou mais flexível. Ainda bem.
Agora é esperar pra ver como vão ser as outras aulas. Acho que não deve ter tanto estrangeiro como nessa. Mas pelo menos a primeira aula da semana eu já sei que vai ser legal!

Quanto custa?

Aproveitando que hoje é sábado, dia oficial de programas de gincana na TV, vamos recordar um desses quadros que o Silvio Santos adora! Sabe aquele que o Silvio mostra os produtos e o participante tem que adivinhar o preço de cada coisa? Pois é. É disso que vamos brincar.
Hoje fui ao supermercado e comprei isso tudo aí ó:



Um pacote de arroz, um pacote de macarrão, uma bandeja de carne moída, margarina, pão de forma, uma caixa de leite (que aqui tá mais pra "água de leite"), uma lata de molho de tomate e alguns artigos de "luxo" (coisas que eu nunca compraria no Brasil, a não ser que eu estivesse com a minha mãe, ou pagasse no cartão dela): um potão de geléia de morango, um potinho de cream cheese, uma caixa de suco de pêssego e um pacote de croissant de chocolate.
Agora chuta quanto custou isso tudo?
Teeeeeeeeeeeeempo!
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Acertou quem respondeu 10 euros. Ou melhor, 10 euros e 13 centavos (aqui eles fazem questão dos centavos). 
Isso mesmo. Dez euros. Ou seja, uns 23 reais. 
No Brasil? Vixi! Acho que nem com 50 reais eu pagaria, né?! Pra vocês verem como a carga tributária do nosso país encarece bastante as coisas e afeta diretamente o nosso bolso.

[Pode até parecer que eu tô puxando sardinha pra Espanha. Mas é que em alguns aspectos eles estão bem a nossa frente. Tudo bem, uma série de fatores históricos fizeram com que o Brasil fosse o que é hoje. E a própria Espanha contribuiu pra isso. Mas, como em todo lugar, aqui também tem seus defeitos. Daqui a pouco eu falo deles. E, de qualquer maneira, eu amo o Brasil! Um dia a gente chega lá. Ou aqui.] 



Aceita um copo de água da torneira?

*Atenção, crianças, não façam isso em casa!

"Aceita um copo de água da torneira?". É assim que recebemos visitas aqui em casa. Isso mesmo, se algum dia você vier à minha casa, aqui em Salamanca, o que eu vou te oferecer é um copo de água da torneira. Qualquer pessoa, de amigos a inimigos. E de maneira alguma minha intenção é que o visitante tenha uma dor de barriga ou  se encha de vermes. É que aqui a água da torneira é potável.


Você deve estar pensando "Ahh... Mas mesmo assim eu não teria coragem de beber". Realmente, beber água da torneira não é a coisa mais normal pra mim. Bom, mas eu aderi à prática. Até porque não dava pra passar seis meses comprando água, sendo que é só abrir a torneira e voilà, habemus água potável! [fiz uma mistureba de idiomas, né?! É mais ou menos assim que tá o meu cérebro. Cada palavra da frase sai numa língua]. Ainda mais depois que a Maria Jesus [leia-se "Resus"], dona do apartamento que moramos, fez uma linda demonstração, abrindo a torneira, enchendo o copo e bebendo tudo numa única golada. Só pra gente acreditar que podia beber mesmo.

Olha que prático! Imagina você acordando com aquela ressaca. Você vai tomar um banho gelado, e aproveita pra beber uma água geladinha. Só abrir a boca em direção ao chuveiro.

[mais um costume que eu não posso levar quando voltar pro Brasil. Em uma semana vou ter uma quantidade de vermes tão variada quanto a fauna brasileira]

Ferias y Fiestas

De 7 a 15 de setembro Salamanca esteve em festa (ainda está, né?! Faltam algumas horas pra terminar). O que eles chamam de Ferias y Fiestas. O motivo? O aniversário da cidade, que é comemorado no dia 8 de setembro. Como os espanhóis são um povo bem animado, as festividades duram nove dias! Na verdade, parece que as festas de férias são uma tradição aqui na Espanha, já que vários povoados que nós visitamos, quando fomos à Sierra de Francia, também estavam em festa. Acho até que a Élida (professora que nos levou para conhecer a serra) comentou algo a respeito.

Pra ilustrar melhor como funciona, posso dizer que é tipo uma festa junina, com bandeirolas, barraquinhas, música e comidas típicas. Aqui eles chamam as barraquinhas de "casetas". Nelas são vendidas iguarías típicas da Espanha, os chamados "pinchos", que normalmente são combinadas com uma bebida. Tudo isso por uma módica quantia que varia de 1,80 a 2,40 euros.



Cada bararquinha é especializada em um tipo de "pincho". Eu experimentei uns cinco diferentes. Pena não ter tirado fotos. Um de jamon, que é pernil de porco preparado de uma maneira especial (um dia escreverei só sobre o jamom) à carbonara, muito bom. Um de chorizo. Não! Não é chouriço. É de porco também. Mas é tipo uma linguiça, com um gosto muito forte, mas bom também. Um de patatas bravas. Que são batatas fritas cortada em cubinhos com um molho parecido com molho rosé, só que apimentado, que era uma delícia. E os mais interessantes e que eu não lembro o nome. Um deles era um bifinho de carne, temperada com cury e mais um monte de coisa que eu não entendi o que era (a gente sempre perguntava do que era feito antes de pedir, porque pelo nome nem sempre dava pra adivinhar), numa fatia de pão com molho de tomate. Segundo o moço que nos atendeu, é uma comida típica do Marrocos (a Espanha tem uma ligação muito forte com o Marrocos. Mas sobre isso eu falo uma outra hora também). O outro foi o mais estranho. Era tipo esse do Marrocos: um pão com uma carne. Só que o molho era doce. E a carne era de cabeça de porco! Isso mesmo, amiguinhos! A gente come o pé e as orelhas na feijoada. Por que eles não podem comer a cabeça?

Agora falando um pouco sobre as bebidas de acompanhamento. Era possível escolher entre água, refrigerante, vinho, sangria, "ceveza", "caña" e "calara". Não me pergunte a diferença de "ceveza" pra "caña", porque pra mim é a mesma coisa. Um dia ainda peço pra alguém me explicar. Já a clara é "ceveza" (ou "canã". Já disse que não sei diferenciar...) com água gasosa (eca!). Não experimentei. Mas não deve ser muito bom...

A cidade fica cheia de "casetas". A cada esquina que você dobra, encontra um grupinho de barraquinhas. E elas abrem mais ou menos na hora da almoço. Aí a galera dá uma passadinha antes de ir pra casa almoçar, pra comer um aperitivo. Fecha pra siesta. Lógico. Tudo fecha pra siesta. E reabre no final da tarde, até a meia noite.

Tem gente de todas as idades. Lógico que algumas "casetas" são mais frequentadas por pessoas de mais idade, como as "casetas" regionais, nas quais cada barraca representa uma região da Espanha e têm apresentações de danças e músicas típicas. As vovós adoram! Outras têm mais jovens e tocam músicas mais atuais.

Bom, além das "casetas", a programação incluiu vários shows (até de artistas famosos na Espanha) na Plaza Mayor e no Pátio de Escuelas. Apresentações de dança, campeonatos esportivos, peças teatrais, o Festival Internacional de Artes de Rua, com espetáculos lindíssimos, lógico, no meio da rua e uma queima de fogos de meia hora no dia do aniversário da cidade. Tudo isso de graça!





O bom é que como as aulas não começaram ainda, deu pra aproveitar bastante. E eu bem acho que eles falaram que as aulas iam começar dia 6 só pra gente chegar antes e movimentar a festa. Além de gastar dinheiro nas "casetas", claro!

Pode dar bala de troco?

Já parou pra pensar quantas vezes você recebeu uma moeda de um centavo de troco? Quase nenhuma, né?! Pra mim pelo menos, receber uma moeda de um centavo é quase como sair uma nota de cem no caixa eletrônico. Muito raro.

Já perdi a conta de quantos centavos foram deixados pra trás a cada compra feita no Bahamas. Por fim, preferia pagar no cartão de débito, pra que o valor correto fosse descontado da minha conta. Porque, como já dizia propaganda do Visa, "bala de troco, que coisa triste". As lojas de "1,99" então, lucraram muito às custas dos um centavos deixados pra trás.

Por aqui eles prezam pelo troco certinho. Nunca andei com tantas moedas na vida! Se a coisa que você comprou é 1,98 e você paga com dois euros, você tem os seus dois centavos de troco. Nada de bala ou chiclete. É uma moedada danada. Ainda mais que aqui eles têm moeda de 2 euros. Você dá uma nota de dez pra pagar uma coisa que custa 1,80 e recebe o troco todo em moeda. A primeira vez foi estranho. Achei que o troco estava errado. "Esse tanto de moeda não dá o valor do troco". Até conferi.



É meus amigos, são tantos costumes que nós não estamos habituados. Sabemos o que é o certo a se fazer, mas fazemos de outro jeito. Coisas simples, mas que no dia a dia fazem a diferença. Como por exemplo,  receber o troco certo a cada compra e ter váááárias moedas de um centavo na carteira. Não dizem que é de grão em grão que a galinha enche o papo?

Papanamericano

Enquanto não começam as aulas e nós não conhecemos nossos coleguinhas de faculdade, as pessoas mais próximas de nós acabam sendo nossos coleguinhas de apartamento. O Andrey, um dos estudantes da UFJF que vieram pra cá, mora com dois italianos. E como nós, brasileiros, andamos muito juntos, acabamos conhecendo os italianos que moram com o Andrey. Enfim, dei essa volta toda para falar sobre uma outra coisa. 

Segundona brava. E aquelas músicas que você ouviu no final de semana ecoando na sua cabeça. Um dia escreverei um post, ou uma série de posts, só sobre as músicas que tocam aqui. Enquanto não fecho a lista, falarei sobre uma em especial.

Sabe aquela música que sempre toca no Pânico quando a Sabrina está em Ibiza (Ahhh.. Ibiza!)? O Papanameriacano? Pois é. Essa música está bombando por aqui. Nos carros, nas rádios, na rua... Toda hora toca. E sabe os italianos que eu falei no início do post? Eles nos disseram que a música original é uma canção napolitana (eles são de Nápole) bem antiga. Achei interessante. A gente escuta a música e nem imagina que há uma "história" por trás dela.

Procurei um vídeo no YouTube pra ilustrar. Tá aí a original:


A música que faz sucesso atualmente é um remix dessa canção. Pra quem ficou com vontade de ouvir a versão que toca no Pânico e nas baladas por aí, segue o vídeo:

Atravesse sem olhar

A organização do trânsito aqui é bem diferente. Não que o sinal verde seja para parar e o vermelho para seguir. Não. Digo no que diz respeito à relação entre os pedestres e os carros. No Brasil estamos acostumados a atravessar em qualquer parte da rua. A faixa de pedestres, na maioria das vezes, não representa muita coisa para os transeuntes. Mesmo que exista uma faixa dois metros a frente, nos embrenhamos no meio dos carros para atravessar. Outro costume é desrespeitar o sinal de pedestres.  Se não vem carro, pouco importa se o sinal está verde ou vermelho, atravessamos sem pestanejar.

Aqui não. Eles sempre atravessam na faixa. E respeitam o semáforo. A rua pode estar vazia. Nem sinal de automóveis. Eles param e esperam o sinal abrir. Mesmo que sejam 4h da manhã. A primeira vez que eu vivenciei uma situação semelhante, fiquei me perguntando "que diabos esses espanhóis tão esperando?". Cheguei a achar ridículo. Como assim ficar esperando o sinal abrir se não vem carro?

Reparem no canto direito que o sinal está vermelho. Mas não vinha carro nenhum e três pessoas estavam paradas esperando o sinal abrir


E tem mais. Às vezes eu confesso que não entendo a lógica da organização estabelecida, já que não foram poucas vezes em que eu fui atravessar e o sinal estava fechado para os pedestres, mas os carros também estavam parados (?). Então, ficávamos todos parados esperando nossos respectivos sinais abrirem.

Ainda não me acostumei com isso. Se não vem nenhum carro, eu atravesso. A não ser que muitos outros espanhóis estejam esperando. Digo isso, porque um dia o sinal estava fechado e tinha um senhor esperando para atravessar também. Como não vinha carro, eu fui. E o senhor chamou a minha atenção, acredita? Ainda assim tem alguns mais abusadinhos que não esperam o sinal abrir. Devem ser estrangeiros também.

Outra coisa que não estou acostumada é que os carros parem para que os pedestres atravessem. Você coloca o pé na faixa, o carro pára, mesmo que seja no meio da esquina. E isso é verdade. Não é história pra boi dormir não. Nós sempre ouvimos falar disso. Mas vivenciar é diferente. Como estamos habituados a outra realidade, é meio que um “choque”. Sempre que vou atravessar onde não tem sinal, páro para os carros passarem. E eles param que eu passe. É até engraçado.

Brinco que se eu dirigisse aqui, iria fazer boliche de pedestres, porque as pessoas às vezes nem olham. Vão atravessando. E como os motoristas brasileiros não estão acostumados a parar para os pedestres onde não tem sinal, seria um desastre. Na verdade eles estão certos. Mas eu ainda vou demorar um pouco pra incorporar essa cultura. E o problema maior vai ser quando eu chegar ao Brasil. Imagina eu atravessando a rua sem olhar?

A Sierra de Francia

Recebemos um presente no final de semana. Uma professora da Faculdade de Economia e Administração da UFJF está aqui fazendo doutorado. Como a Mylena faz administração, ficou sabendo disso e entrou em contato com ela. Afinal, brasileiro ajuda brasileiro.
Para a nossa surpresa, ela nos convidou para fazer um passeio pela região.

Visitamos a Sierra de Francia, que faz parte da Província de Salamanca. É um dos locais de maior tradição turística da província. É composta por vários povoados pequenininhos, mas com grande valor cultural, já que possui folclore, artesanato e gastronomia ricos. Sem falar das paísagens e da preservação da arquitetura medieval. São vários “pueblos”. Mas visitamos paenas dois: La Alberca e Miranda del Castañar.



Estivemos também em um dos pontos mais alto da serra, a Peña de Francia, com 1723m. No pico tem uma igreja e um antigo mosteiro. O local é ponto de peregrinação. No dia que nós fomos, uma excurssão de velhinhos estava fazendo uma visita.



Além de um mirante, onde está indicada a direção de várias cidades. Reza a lenda que nos dias mais claros é possível ver até Portugal (só esclarecendo, a região de Salamanca é bem próxima de Portugal. Não sei ao certo quantos quilômetros. Mas é pertinho mesmo). O local é conhecido como Parque Natural de las Batuecas.



A riqueza da arquitetura medieval, que permanece preservada, é impressionante. Vários becos, ruelas, muralhas, casas feitas de pedra e barro. Uma imersão na história. 


Ajudando a salvar o planeta

A consciência ecológica aqui é uma coisa interessante. A primeira vez que fomos ao supermercado ficamos surpresos. Quando passamos pelo caixa, a moça nos disse que teríamos que pagar pelas sacolas de plástico, já que não tínhamos aquelas sacolas ecológicas.

Cada sacola plástica custa 0,03 euros. Ao passo que uma sacola ecológica comum (existem também as de rodinhas) custa no máximo 0,50. Ou seja, a cada 16 sacolas de plástico é possível comprar uma ecológica. Compensa muito, já que precisamos fazer compras sempre. Então, além de economizar (por mais que seja pouco, esse pouco pode fazer diferença no final), ajudamos a salvar o planeta.

Não são todos os supermercados que cobram pelas sacolas. Mesmo assim, aqui na Espanha, pelo que eu pude perceber, a grande maioria das pessoas prefere as sacolas ecológicas. Até porque, andando pelo mercado não se vê muito aqueles carrinhos enormes e lotados de comida. Parece que as pessoas compram de pouco em pouco. Não fazem compra do mês, como no Brasil. Assim, é possível carregar o que se comprou nas sacolas ecológicas.

Não sei em que pé está a legislação que proíbe o uso de sacolas plásticas no Brasil. Mas sei que em alguns lugares do nosso país a lei já está valendo. Os estabelecimentos ainda têm um prazo para se adequar. Mas, creio que, para que essa legislação funcione, será necessário fazer algo parecido com o que há aqui. Neste processo de transição, talvez seria interessante que os mercados cobrem um valor simbólico pelas sacolas de plástico. Afinal, nós sabemos bem que só mexendo no bolso as pessoas se mobilizam. Se elas tiverem que pagar, vão pensar duas vezes antes de optar pelas sacolsa convencionais. Assim, até o final do prazo estabelecido, grande parte dos consumidores já teria a sua sacola ecológica e teria mudado seus hábitos.

Não sei como seria a recepção de uma medida desse gênero pelos consumidores. Mas é uma alternativa a se pensar.



Eu já comprei as minhas. Duas!

Volta no tempo

Ainda não deu pra conhecer muito da cidade. Visitamos mais a área próxima à universidade, pra procurar apartamento, conforme relatado no post anterior. Mas já deu pra perceber que aqui tem lugares incríveis. Uma volta no tempo quase. Como estamos na correria pra arrumar lugar pra morar, fazer matrícula na universidade, no curso de espanhol e nos instalarmos direito por aqui, às vezes andamos pelas ruas e nem reparamos nas construções, jardins e coisas bonitas que tem pra se ver. Mas hoje não teve como não ficar impressionada com a Catedral de Salamanca. 
Estávamos rodando naquelas ruas do centro histórico (pra variar). Ruas tipo essa aí da foto que eu tirei no primeiro dia que andamos pelo centro. Bem apertadinhas, pequenas, tortas, com construções de pedra, bem altas e nas quais você se perde com muita facilidade.


 Tentávamos achar o lugar onde se pega os papéis para fazer a matrícula. Perguntamos pra várias pessoas como chegar ao local, porque ali, nem o mapa tava ajudando muito. É aquela história, quem tem boca vai a Roma. E se não fosse o super espanhol da Mylena e o meu portunhol arranhado, seria muito difícil achar qualquer coisa ali.
Eis que perguntamos a uma moça que passava onde fica o setor de Relações Internacionais da Universidade. Ela disse que era próximo a Catedral. Seguimos perguntando até avistar uma torre bem alta. Fomos naquela direção. Quando viramos uma das ruazinhas, demos de cara com uma construção monstruosa de grande. Já tínhamos visto coisas muito bonitas, impressionantes, antigas... Mas igual à Catedral, nada. Eu simplesmente parei no meio do caminho e fiquei olhando de boca aberta. Nem lembrei que tinha uma máquina fotográfica na mochila. Mas procurei no Google (santo Google!) umas fotos.











Repare só o tamanho das pessoas em relação à construção. 
É muito grande e rico em detalhes. Fiquei me perguntando como eles fizeram pra erguer isso com tão poucos recursos disponíveis na época. Eu poderia ficar horas lá na frente, só olhando. Mas tínhamos pressa. Todos os departamentos administrativos da universidade fecham às duas, por causa da maldita siesta. Então, se não resolvermos até esse horário, só no dia seguinte. 
Enfim, outro dia volto lá e tiro muitas fotos pra colocar aqui.

Em busca de um lar...


Como aqui os alojamentos da universidade são muito caros, os estudantes preferem alugar apartamentos, ou quartos. A universidade oferece uma lista com as vagas disponíveis na cidade. Ela é atualizada diariamente. Ontem nós pegamos essa lista e hoje olhamos váááááários.
Antes de ir aos locais, fomos a um "locutório" (lugar que tem cabines telefônicas) e ligamos para pedir informações sobre os apartamentos. De manhã nós ficamos meio desesperadas. Parecia que tudo já estava alugado. Mas fomos à universidade e pegamos uma nova lista. Aí sim, conseguimos falar com muita gente. E visitamos vários.
- No primeiro eram dois rapazes latinos e tinha mais uma vaga. O valor é 180 euros. É bem próximo à universidade, mas o quarto é bem apertado e são dois homens. Não rola morar com dois homens, né?! 
- Depois, vimos um que tem uma vaga só, de 190 euros, mais outros gastos, que devem dar por volta de 20, 25 euros. Ou seja, uns 215 euros. Moram duas meninas e um menino. Mas nós não vimos nenhum deles... 
- Então fomos em um que está em reforma. Tem 4 vagas. Está todo desocupado. Fica mais afastado da universidade. Uns 13 minutos. Os preços são 180 e 160 euros (a diferença é por causa do tamanho dos quartos). Mais outros gastos, 20, 25 euros. Eu gostei, mas fiquei com medo do inverno, já que é mais afastado da universidade. Imagina acordar cedo todo dia e andar 13 minutos na neve e no vento pra ir na aula. Vou perder as primeiras aulas todos os dias.
- Fomos em um muito bom. Muito chique. Mas muito caro. 250 euros mais gastos. Ou seja, uns 275, no mínimo. Esse é só de meninas. E já morava uma alemã lá que não falava nada de espanhol.
- Fomos em um que mora uma espanhola. Tem um quarto que é 200 euros e um que é 220. Mais os gastos de 20, 25 euros. O apartamento é muito bom. Arrumadinho. Mas a espanhola que mora lá parece mais velha. Deve estar fazendo doutorado ou mestrado. E parece ser enjoada com limpeza, barulho.. Moram mais duas portuguesas lá. Esse é só de meninas também. O local é bom. 
- Esse aqui foi o mais engraçado. A Mylena ligou e atendeu um rapaz. Aí ela marcou de visitar o apartamento e ficou falando que o rapaz era muito simpático e que ficou encantada com jeito que ele falava espanhol tal. Quando a gente chegou no lugar e o cara abriu a porta e fomos falando espanhol. Aí, do nada, ele vira e pergunta, de onde a gente é. Respondemos: Brasil. Aí ele começou a rir e disse que era brasileiro também, com um sotaque carregadíssimo. Ele é lá do Recife e já está há 2 anos aqui. Está fazendo doutorado. O apartamento dele é novo. Quartos grandes. Cada um de um preço, de acordo com o tamanho: 160, 175 e 190 euros. E, como sempre, gastos extras... 20, 25 euros. Ele foi muito simpático mesmo e nos deu algumas dicas.
- Depois fomos em um de 150 euros. É bem cara de república mesmo, com um monte de coisas pregadas nas paredes. E quem abriu a porta era uma moça muito gorda que estava dormindo às 8h da noite. Diz o dono do apartamento que ela é uma moça muito boa e caseira. Deve ser mesmo, porque pra estar dormindo às 8h da noite... Moram ela e mais um rapaz. Os gastos com luz, água, internet, também são cobrados separadamente.
- Nesse mesmo prédio, que também é o mesmo do panamenho, tinha um outro apartamento. Nós marcamos de ir visitar, mas chegamos atrasados porque ficamos conversando com o cara de Recife. Na hora que nós tocamos os interfone, o cara que ia mostrar o outro apartamento (o da gorda) apareceu. Aí nos deixamos a mulher falando sozinha no interfone e subimos pro outro. Depois da sair do da gorda, disfarçamos um pouco e voltamos pra tocar o interfone de novo. Esse é o melhor, na minha opinião. Pertinho da univerisidade. Bem arrumado. E com preço bom. São 4 quartos. Um de 175, um de 180 e dois de 220 euros. Depende do tamanho. Mas são todos de um tamanho decente. Comparado ao que eu morava em Juiz de Fora, todos são enormes... rs!  E, como não poderia deixar de ser, tem os gastos à parte. Nenhum está alugado ainda. 

Isso, fora os que a gente foi na rua, mas não achou o número. Os que a gente ligou e não aceitam estrangeiros, ou só aceitam gente que vai morar por um ano, ou já estavam alugados..

O bom é que já conhecemos a região da universidade toda. E, se um dia eu precisar alugar um quarto ou apartamento e negociar em espanhol, já tô fera, neném!