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Costumes

Salamanca é considerada uma cidade onde os habitantes falam um espanhol bastante "puro". Por isso, muita gente vem pra cá pra aprender o idioma. No curso de espanhol para estrangeiros que eu estudo tem gente de toda parte do mundo. Só na minha sala tem chinês, japonesa, sérvio, alemães [muitos alemães!], francês, italiana, turca, iraniana e váááários brasileiros. Por isso, de vez em quando, meu professor dá umas dicas de comportamento.

É muito engraçado como uma coisa banal em algumas culturas, pode ser absurda em outras e nem passar pela nossa cabeça a possibilidade de que fazer aquela coisa daquela maneira, pode ser até um insulto para os nativos.

Outro dia o professor nos ensinou sobre como receber um elogio na Espanha. Segundo ele, sempre que alguém te elogiar ou elogiar uma coisa sua, você tem que agradecer mas dizer que aquilo não é tão bom quanto parece. Por exemplo:

- Nossa! Sua casa é linda!
- Obrigada! Mas dá muito trabalho pra limpar.

Ou

-Sua roupa é muito bonita.
- Obrigada. Mas esse sapato está me machucando, a blusa pinica e o casaco está furado...

Apenas agradecer o elogio pode soar como uma grande grosseria. Por isso, em alguns casos extremos é necessário inclusive inventar um defeito [mesmo que pra você ele não exista] só pra ser "educado". Sim. O professor disse essa parte de inventar também. Pra ver se a gente tinha aprendido direitinho, após a explicação ele perguntou pra turma:

-Então, se alguém fala pra você que você é inteligente, o que você responde?

Aí tinha um alemão do meu lado que virou e falou baixinho:

- É. Eu sei!

Ainda bem que o professor não escutou!

O cinema

Ir ao cinema é um tipo de diversão garantida em qualquer lugar do mundo, certo?
Mais ou menos. Depois de quase dois meses na Espanha e de ouvir muitas lendas sobre os cinemas daqui, surgiu a oportunidade de conferir com meus próprios olhos se tudo o que falavam era verdade mesmo.

O susto começou na compra da entrada. Não aceitavam carteirinha de estudante. Pelo que a moça falou tinha a ver com o dia da semana, que era sábado. Morri em 6,20 euros. Nem quero colocar o valor em real, pra não me arrepender. Faça a conta aí você mesmo.

Ok. Entrada paga, seguimos rumo à sala de exibição. Meu Deus! Nem o menor cinema de Valadares [acho que chamava Cine Center antes de virar igreja!] tinha uma sala tão pequena, com uma tela tão pequena. Mas tudo bem. Pelo menos as cadeiras eram confortáveis.

O filme escolhido foi Cartas a Julieta. Uma comédia romântica, bem água com açucar, com Gael Garcia Bernal, perfeita para momentos em que não que se quer pensar muito no que se está assistindo. Não vou contar o enredo aqui porque é um pouco grande para explicar em poucas linhas. A moral da história é que nunca é tarde para lutar por um grande amor.

Bom, mas o post não é sobre o filme. E sim pra falar que TODOS os cinemas da cidade, por mais que tenham salas e telas maiores do que o que eu fui, só exibem filmes dublados. Tipo Sessão da Tarde. Eu perguntei pra moça da bilheteria e ela me confirmou. Não há filmes com áudio original. Até Barcelona, uma cidade grande, não escapa. Perguntei pra atendente de um dos cinemas se tinha algum filme em inglês e ela me respondeu com um contundente "Nunca!". Segundo ela, só um cinema da cidade passa filme com legendas.

É amigos, realmente os espanhóis prezam muito pelo idioma deles. Não vale falar inglês aqui não! Nem no cinema.

Obs: saudade das segundas e terças-feiras em Juiz de Fora, quando a entrada para o cinema é dois reais e o áudio é original.

Barcelona - Parte 2

Barcelona é uma cidade que respira todo tipo de arte. Para quem trabalha com criação, arquitetura, música, teatro, comunicação e qualquer outra coisa relacionada com arte [e não relacionada também!], a cidade é um prato cheio para inspiração. Um pequeno tour pelas ruas e você vê que é possível construir qualquer coisa, de qualquer forma, jeito e cor. Que não precisa de um palco pra ter uma imensa platéia apreciando sua arte. Um verdadeiro museu-palco-exposição à céu aberto.


Um dos maiores palcos coletivos da cidade é a La Rambla. Uma das ruas principais da cidade, com um calçadão que passa bem no meio dela. Esse é um dos lugares preferidos dos artistas de rua. Principalmente das "estátuas vivas" [ou seja lá qual for o nome daquelas pessoas que pintam o corpo de prata e ficam paradas imitando uma estátua]. Só que até as "estátuas vivas" de Barcelona são diferentes. Algumas bem coloridas. Outras assustadoras. E tem também as satíricas.


No quesito arquitetura, Barcelona dá show! Uma mistura de todo tipo de construção que você pode imaginar. Desde os mais modernos, coloridos e exóticos que você nem sabe como param em pé, até os mais antigos, históricos, medievais. Vários deles são muito famosos, como a Casa les Punxes e a Sagrada Família [uma igreja projetada por Gaudí, diferente de todas igrejas do mundo]. Descendo o Passeig Grácia, você se depara com prédios incríveis, como La Pederera e Casa Batlló, também do Gaudí, Casa Amatller e Casa Leó. Art nouveau, arte moderna e outros tipos de arte mais, em forma de prédio. 


O Pack Guell merecia um post só pra ele. Uma longa subida mas que vale a pena pela visão que se tem da cidade e pelas construções. Um dos lugares mais bonitos que eu já vi na vida. Gaudí é sensacional. Projetou umas coisas que parecem saídas de sonho.


Os músicos de rua são um espetáculo à parte. Eles são figurinhas fáceis pelas ruas e parques da cidade. É possível encontrar todo tipo instrumentista, desde os mais comuns, como violonistas, até aqueles que tocam instrumentos árabes exóticos. Se você for músico, resolver passear por lá e puder levar seu instrumento, às vezes dá até pra descolar uma grana tocando.



Barcelona - Parte 1


Depois de quatro dias em Barcelona, voltei com muitas histórias pra contar. Mas vamos começar pelo começo, né?! Depois de acordar às 6h30 da madrugada (sim, aqui 6h30 é muito madrugada. É algo como 5h30 no Brasil) para pegar o ônibus para Madri, então pegar o vôo para Girona e finalmente outro ônibus para Barcelona, pode-se dizer que a diversão da viagem começou à bordo da Ryanair, a maior companhia aérea low cost da Europa.

Para ir de Madri a Barcelona paguei a singela quantia de 10 euros (fora as taxas do cartão de crédito). Estranho, né?! Mega barato. Mas nós descobrimos o porque logo nos primeiros 5 minutos de voo. Todo mundo morrendo de sono, já que saímos de Salamanca 7h30 da manhã, e uma demora de mil anos pra embarcar. Uma fila imensa. Juro que pensei que não fosse caber aquele povo todo no avião. Ou então eles tinham dois vôos no mesmo portão de embarque. Depois de conseguir entrar no avião, um calor infernal. Poltronas apertadas e que não reclinavam (também, se reclinassem, a poltrona do coleguinha da frente iria chegar a três dedos da minha boca).

Depois das instruções de segurança, que ninguém presta atenção [mas que depois que acaba todo mundo fica pensando: "deveria ter decorado o que a aeromoça disse. Se o avião cair tô no sal" - pra não falar outra coisa], eis que uma voz do além começa a anunciar um produto revolucionário: um cigarro sem tabaco, que pode ser fumado em qualquer ambiente, inclusive no avião, e te ajuda a parar de fumar! Os comissários de bordo então começaram a mostrar o produto, no melhor estilo Shoptime, e a fazer demonstrações no corredor do avião [?!]. E a gente sem entender nada.

Passado o cigarro, pensamos que daria pra dormir. Doce ilusão. Eles começam a oferecer os produtos da revista Ryanair: relógios, perfumes e uma vasta de gama de tudo o que você imaginar... Logo em seguida, começa o serviço de bordo. Pago. Lógico! Numa passagem que custou 5 euros não poderia estar incluso aquele lanchinho da TAM, com suquinho, sanduíche e biscoito doce. Na Ryanair você pode arrematar uma garrafinha de água de, sei lá, 500ml, por 3 euros [só para dar um parâmetro, no mercado você compra uma garrafa de 1,5L por 40 centavos].

Quando finalmente a gente conseguiu pegar no sono, depois de alguns minutos de silencio, soa uma música triunfante e a voz do além anuncia: "é chegado o momento mais esperado do voo!". Aí a gente: "Uai? Já chegou? Vai pousar?". Então a voz diz: "A loteria Ryanair!". Não teve jeito, tivemos que rir. E a voz continuou falando maravilhas da loteria. A essa altura todo mundo já tinha desistido de dormir.

Tá mais que explicado o preço da passagem e porquê dos vôos só serem dentro da Europa. O pior [ou melhor, já que é o que deve sustentar a companhia] é que tem gente que compra perfume, loteria, etc etc... Resumindo: a Ryanair é o maior shopping aéreo do mundo! E no final das contas, ir e voltar de Barcelona por 10 euros foi um ótimo negócio, além de uma experiência, no mínimo, divertida. 

II Congreso Internacional Comunicacion 3.0

Segue o link para o meu artigo sobre o II Congreso Comunicacion 3.0 no publicado no Nos da Comunicacao 
Discussoes muito interessantes sobre o futuro do jornalismo!

(desculpem a falta de acento e pontuacao. O teclado desse computador eh diferente!)

Universidad de Salamanca

Outro dia mesmo postei sobre o primeiro dia de aula e agora já estou na minha terceira semana na Universidade de Salamanca. Tempo suficiente para observar algumas coisas e fazer alguns comentários:

Campus Unamuno

- Não tem bebedouros na universidade. Se tem, estão bem escondidos. No máximo você encontra máquinas que vendem garrafinhas de água. Se você não estiver a fim de pagar, pode dar um pulinho no banheiro e tomar água da torneira!

- O jornal El Mundo, um dos maiores da Espanha, é distribuído gratuitamente para os alunos. Não sei de quem foi a idéia. Se é a universidade que compra e distribui, ou se é uma estratégia do próprio jornal, o que eu acredito ser mais provável. Os universitários são um público em potencial muito forte. Ao mesmo tempo que precisam ter acesso às notícias, ainda não têm dinheiro para fazer uma assinatura [ou preferem gastar esse dinheiro com festas]. Mas, muito em breve serão profissionais de sucesso [!], que ganham dinheiro, e já estarão habituados a ler aquele veículo!
Independente de quem é o responsável, eu tô adorando poder ler jornal todos os dias!

- A biblioteca daqui é muito movimentada. Bom, eu não posso falar muito sobre a biblioteca da UFJF, porque não frequentava muito. Mas aqui, por incrível que pareça, passo pelo menos umas duas horas do meu dia lá, estudando [isso mesmo! Tem hora que nem eu acredito], e tenho muitos companheiros! Dizem que, na época dos exames, os alunos ficam tão alucinados pelo estudo que as bibliotecas da universidade funcionam 24h por dia! 
Mas o mais interessante da biblioteca é a sinfonia de tosses. É um efeito no estilo do bocejo. Basta um tossir que desencadeia uma sequencia de tosses dos mais variados tipos. Adeus concentração, né?!

- As carteiras aqui não são separadinhas como normalmente são no Brasil. É uma mesa comprida, com vários assentos pregados na mesa comprida da fileira de trás [deu pra entender?]. De modo que, se você está no meio da fileira e é acometido por uma mega vontade de fazer xixi no meio da aula, você tem que pedir pra toooodos os seus coleguinhas se levantarem para que você saia. Nisso a aula já parou e estão todos acompanhando os seus movimentos. Ou seja, não se sente no meio da fileira. Ou segure o xixi!

- Por último, a essência da dinâmica em sala de aula é igual a do Brasil. Às vezes o professor pergunta e ninguém responde. O professor fala sobre coisas que os alunos deveriam saber, mas não sabem, ou fingem que sabem. Tem professor que acaba a aula uma hora antes do previsto. Os alunos podem sair no meio da aula. Alguns professores deixam até comer. De vez em quando rolam aqueles comentariozinhos com o coleguinha do lado [minha coleguinha sueca disse que no país dela isso é inadmissível!].  Mas um detalhe importante, não vi ninguém dormindo na aula, ou deitado na carteira. 

As eleições brasileiras na Espanha

Domingo, dia 3 de outubro. Dia de eleições presidenciais no Brasil. Infelizmente não posso participar e exercer meu dever de cidadã. Eleições presidenciais só acontecem de quatro em quatro anos e calhou da minha viagem ser justamente em ano eleitoral. Só espero que os brasileiros me representem bem ao irem às urnas hoje. 


Mas o assunto aqui não é bem esse. Já que eu não estou no Brasil, acompanho as notícias pela internet. Hoje vou recuperar um pouquinho as raízes do blog e fazer uma comparação da coberturas das eleições feitas pelos dois principais jornais espanhóis: o El País [que eu já falei bastante dele por aqui] e o El Mundo.


El País

El Mundo

Em ambos os jornais, a eleição presidencial brasileira teve destaque na página principal. Um fato inusitado é que o jornal tido como de direita, o El Mundo, dá mais destaque à Dilma que o jornal de esquerdra, El País. A maior parte da matéria do El Mundo fala da candidata de Lula, e também é ela quem está na foto que ilustra a matéria e seu nome está no título. O texto descreve o dia da candidata, fala da possibilidade de vitória no primeiro turno e traz uma declaração de Lula a respeito do processo eleitoral. O resto da matéria se dedica a falar um pouco sobre Marina e Serra, nessa ordem, que também é a ordem de comparecimento dos principais candidatos às urnas. O texto ressalta, ainda, o crescimento de Marina nas pesquisas.


O jornal fez até um cabeçalho especial para as eleições brasileiras e tem uma página que contém, além da matéria citada acima, os perfis dos principais candidatos, com títulos ótimos, diga-se de passagem, e uma matéria crítica, que diz que nenhum desses candidatos apresentou uma proposta formal de governo.


O El País também fala da possibilidade de vitória no primeiro turno e diz que mesmo que haja segundo turno, as pesquisas apontam a vitória de Dilma como certa. E dá destaque ao fato de que ela será a primeira mulher a ser presidente do "colosso brasileiro" e a segunda pessoa que participou de uma guerrilha nos anos 70 e agora chega ao poder democrático (o primeiro foi o presidente do Uruguai, José Mujica).


A matéria do El País é mais completa e explicativa, porque além de falar dos candidatos à presidência, explica que serão eleitos também governadores, deputados e senadora. Fala um pouco do processo eleitoral e das urnas eletrônicas - "La votación se realiza a través de un moderno sistema electrónico". E não poderia terminar sem falar um pouco de Lula, que deixa o governo com 80% de popularidade, segundo o jornal.