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Sou minei...

Eu sou mineira. Nascida e criada em Governador Valadares, Leste de Minas. Pra quem não sabe ou precisa de uma ajudinha para se localizar, o Leste de Minas fica próximo das divisas com o Espírito Santo e a Bahia. Logo, como Minas não tem mar, minhas férias sempre eram em um dos dois estados. Houve um período, que durou uns 10 anos, em que as férias foram predominantemente capixabas. Então, todo mês de janeiro eu me transformava em “mineiraba”.

Eram temporadas nos balneários mineiro-capixabas de Guriri (uma ilha da cidade de São Mateus) e Conceição da Barra. Tinha Guarapari também. Mas lá a gente costumava deixar pro pessoal de BH. Era tempo de comer moqueca capixaba e caranguejo, catar conchinha e tatuí na praia e, já na adolescência, de curtir o trio elétrico ao som de Beto Cauê. Tudo isso banhado por aqueles mares de águas escuras do Norte do Espírito Santo.

Avançando um pouco no tempo, me mudei para Juiz de Fora, cidade mineira quase na divisa com o Rio de Janeiro. Lá eu descobri meu lado “mineirana”, mineira com baiana. É que lá eles cismaram que eu era da Bahia, por conta um tal sotaque baiano que eu nem sabia que tinha. Era eu abrir a boca que as pessoas perguntavam: “De onde cê é? Da Bahia?”. E sem entender nada eu respondia: “Eu sou mineira, uai!”. É que como Valadares é pertinho da Bahia, sem perceber a gente já ia entrando no clima e pegando aquele sotaque cantado. Cantádo e líndo, como diria Caetano.

Só que o tempo em Juiz de Fora (que como eu já mencionei fica perto do Rio) já foi me preparando para o que estava por vir. Aos poucos fui perdendo o sotaque baiano e ganhando uma ginga carioca. Quando eu dei por mim, já estava morando no Rio, com direito a comprar garrafa de 1,5 litro de mate no supermercado, choppinho depois do expediente e corridinha na orla no final de semana. Ou seja, uma autêntica “mineiroca”.

Acontece que eu arrumei um namorado que em um dado momento inventou de morar em São Paulo. Aí vou eu passar os finais de semana na Terra da Garoa, na ponte aérea (na verdade era ponte rodoviária, mas tudo bem) Rio-São Paulo. Em pouco tempo eu já conhecia todas as linhas de metrô, vários bares e restaurantes da Vila Madá, o Ibira e os museus todos. Era pra paulista nenhum botar defeito. Uma autêntica "mineirista" de final de semana.

De estado em estado já "zerei" o sudeste + um estado do nordeste. Quem sabe um dia eu consigo "mineirar" tudo e “zerar” o Brasil? 


No cabeleireiro


Um dia ela acordou e decidiu que o cabelo estava ruim. Na verdade já vinha ruim há uma semana ou mais. Cansada de "bad hair day" que evolui para "bad hair week" e assim sucessivamente, ela resolveu que estava na hora de acabar com essa palhaçada e cortar o mal pela raiz. Ou melhor, pelas pontinhas.

Saiu de casa um pouco mais cedo do que o horário normal e antes de ir trabalhar passou no salão de beleza mais próximo de casa. Porque com ela não tem dessas coisas de cabeleireiro de confiança.  O negócio é praticidade, resolver o problema o mais rápido possível. Afinal de contas, cabelo cresce. E se ficar ruim, prende. Ou coloca um arco, faixa, grampo, lenço... Se de tudo ainda não estiver bom, dá uma caprichada no creme pra pentear, uma amassada nas pontas e vida que segue, como se estivesse super à vontade com aquele cabelo desgrenhado.

Obviamente, devido à sua natureza pragmática, ela não marcou horário. É sempre assim. Ela resolve de uma hora pra outra que precisa cortar o cabelo impreterivelmente o mais rápido possível. Não dá pra ligar, ver a agenda, marcar horário. Perda de tempo.

“Bom dia! Quero cortar cabelo. Tem algum profissional disponível?”

A recepcionista normalmente assusta, já que cortar cabelo é uma coisa premeditada. Ninguém acorda e de repente tem vontade de cortar o cabelo. Normalmente as mulheres pensam, refletem, hesitam e marcam horário. Mas com ela é diferente. Ela resolve na hora mesmo.

Por sorte uma dessas mulheres que tinha premeditado e marcado horário não apareceu naquela manhã. Deve ter se arrependido e não foi (esse negócio de marcar tem dessas coisas: dá tempo de se arrepender e desmarcar ou não ir). Como ela não tinha preferência de profissional, podia ser aquele mesmo que estava com o horário vago. 

O profissional, então, a encaminhou para cadeira. Ela se sentou e soltou o cabelo (a coisa estava tão feia que ela tinha saído de casa de coque). Ele perguntou se ela usava secador, chapinha ou era adepta de qualquer outra prática de ajeitamento capilar. Ela disse que não, que nem secador tinha. Ele logo concluiu que ela queria algo prático.

Então foram para o lavatório. Já de volta à cadeira da transformação o cabeleireiro foi fazendo seu trabalho. Acerta aqui, apara ali, repica a frente. Voila! Pronto! A liberdade de um cabelo novo.

Ao final o cabeleireiro dá uma ajeitada e pergunta com o que ela prefere pentear o cabelo: pente, escova...? Ela, já se levantando da cadeira, diz: “Com nada, não. Assim está ótimo!”. Há 8 anos, depois que sua escova de cabelo sumiu na republica onde morava com outras 12 meninas, nunca mais penteou o cabelo. E era feliz assim, sem secador e sem pente na sua rotina.