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O universo paralelo

Faz tempo que eu não passo por aqui, né?! Infelizmente fui envolvida por uma rotina louca de mil coisas pra fazer, como boa workaholic que sou, e sempre no momento crucial do dia, quando eu tinha que escolher alguma coisa pra deixar pra amanhã, sobrava pro blog, coitado.
Bom, a princípio minha proposta era escrever aqui experiências de contraste de cultura, viagens, dicas, coisas que pudessem interessar a outras pessoas. E jamais fazer do espaço um "querido diário". Mas cheguei num momento do intercâmbio que nenhum tema é tão plausível quanto algo que soe como um post "querido diário": a metade da viagem [e talvez isso até interesse a alguém].
Por que digo isso? Porque agora já passou a novidade. As coisas já não têm o mesmo encanto de antes. As descobertas já não são tão constantes. Você já  não se perde mais no centro histórico com tanta frequência se você não leva consigo um mapa [disse "com tanta frequência" porque semana passada tava andando distraída e me perdi na Plaza Mayor. Uma vergonha. Mas é verdade].  Você já não acha o cheiro do jamon tão estranho. Você já atravessa a rua com desenvoltura. Beber água da torneira é algo super normal. Enfim, você já se acostumou com a vida aqui.
Com isso, a saudade começa a apertar. Você começa a pensar mais naqueles que estão do outro lado do oceano. Porque por mais que você conheça muita gente, todas as pessoas que você ama estão a uns 12 mil quilômetros de você. Você pode conversar, sair, rir, viajar com muita gente. Mas sempre fica aquela impressão de que tá faltando alguma coisa. Até porque, após 22 anos de vida e experiência [ui!] tenho pra mim que é muito difícil [nunca diga nunca] amar alguém depois de apenas dois meses de convivência. A não ser que essa pessoa seja seu filho. O que não é o caso.
Mas, pera aí! Como assim se acostumou? Cara, eu tô morando na Europa e estudando na Universidade de Salamanca, uma das mais importantes e antigas do mundo. Quando na minha vida eu ia imaginar isso? Como assim eu passo pela catedral e já não fico de boca aberta? Eu passo pelo moço que toca violino na Calle Toro e não paro uns minutinhos pra observar?
Outro o dia a gente conversava que isso aqui é um universo paralelo. Um parêntesis que foi aberto na nossa vida. Não é a realidade. Em fevereiro a gente vai entrar numa nave que vai transportar a gente de volta pra vida real. Um dos principais motivos é o seguinte: as pessoas. Mesmo as que eu ainda não amo e nem vou amar um dia.
Desde que eu cheguei aqui eu conheci TANTA gente. No início era uma média de, sei lá, 15 pessoas por dia [inventei esse número. Eu não ficava contando quantas pessoas eu conheci, né?!]. A tomar por base meu Facebook, que teve o número de contatos aumentado vertiginosamente nos últimos tempos. E olha que eu não adicionei nem 1/4 das pessoas que eu conheci.
Bom, tô dizendo tudo isso pelo fato de que 98% dessas pessoas [tirando os brasileiros da UFJF e eventuais amizades que podem se fortificar nos próximos três meses] que eu conversei, trabalhei, estudei, ri, chorei, viajei, bebi, dancei, eu NUNCA mais vou ver na vida [uma exceção para dizer nunca]. Não é bizarro isso? É como se elas, puff!, desaparecessem. Gente que me ajudou, que sorriu pra mim e se esforçou pra entender o que eu queria falar. Que me contou sua história e escutou a minha.
Eu posso até voltar a Salamanca. Mas elas não vão estar mais aqui. A maioria delas também vai ter entrado na nave e voltado pra realidade. É diferente de quando eu morava em Valadares e mudei pra Juiz de Fora. Eu num sei. Mas acho que é necessário um poder de abstração muito grande pra assimilar isso e achar normal.
E é nesse momento que você acorda de novo no meio dessa montanha russa de emoções [ou perde o sono, como aconteceu hoje] e pensa: Ei! Já tá na metade. Daqui uns dias acaba. Daqui a uns dias você vai acordar e sentir um calor de 40 graus. Aproveita tudo isso que é tão anormal e quadridimensional e faça valer a pena o máximo possível. Afinal de contas, você NUNCA mais vai viver isso de novo. O tempo não volta. E as pessoas que você ama estão te esperando do outro lado do oceano, na vida real.
Acho que agora já posso dormir. Boa noite. Ou bom dia!

2 comentários:

Igor disse...

Aaahhh tava pensando nisso tbm ! Meu Deus, ta passando mto rapido e faz um tempo que to com essa sensacao de "nunca mais vou ver essas pessoas de novo". É MTO estranho e nao me acostumo com isso. Mas é o inevitavel...

Mylena disse...

Adorei o post, Tainá!
Incrível como você consegue expressar com palavras todas as estranhas sensações produzidas por um intercâmbio, é exatamente isso!