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Lenço


Ela estava louca para chegar em casa. O trajeto entre a faculdade e esquina de sua rua, que normalmente levava 15 minutos para ser completado, durou eternos 23 minutos. É que estava chovendo. Já viu, né?! Mais carros na rua; o trânsito engarrafa; fica difícil enxergar; os motoristas andam mais devagar, com mais cautela... Essas coisas não tem muito como controlar. Assim como não tinha como controlar a dor de barriga que ela estava sentindo. Ela até tentou ir no banheiro da faculdade. Mas, pra variar, não tinha papel. Aí não tinha jeito. Pensou nas folhas do seu caderno. Mas achou melhor não. Se segurou como pôde. Afinal, ainda estava na hora do intervalo. Tinha mais uma aula pela frente. Tentou pensar em coisas boas. Não funcionou. O barulho que vinha da sua barriga estava atrapalhando. Então foi em direção a rodinha formada por seus amigos. Lá até conseguiu se distrair e esqueceu por alguns minutos o desconforto intestinal. Na verdade, não via a hora de chegar em casa! Finalmente acabou a aula. Mas, como sempre, na hora de ir embora estava chovendo. Até cogitou a possibilidade de ir atrás da moita no estacionamento pra adiantar o serviço. Pouco importava se estava chovendo. Pelo menos lá tinha as folhinhas a disposição. Mas alguém podia ver. O mico do século. Ainda mais nos dias de hoje. Ela já imaginou pessoas sacando os celulares para filmar e tirar foto para depois colocar na internet. Sua reputação estaria arruinada. A dor de barriga até melhorou depois de pensar nisso. Conseguiu chegar até a esquina de casa intacta. Quando avistou seu prédio começou a correr. Atravessou a portaria. Deu boa noite ao porteiro. E deu sorte do elevador estar na portaria. Já foi preparando as chaves durante a subida. Passou pelo corredor como um jato. Entrou em casa. Os metros que separavam a sala do banheiro nunca foram tão longos e cheios de obstáculos (leia-se mesa de centro, tapete, tênis jogado, cachorro...). Chegou ao banheiro já suando e com as calças no meio das pernas. Foi o tempo exato de sentir o alívio! Ufa! Quando esticou o braço para pegar o papel, a grata surpresa: sabe quando um infeliz usa o banheiro, vê que o papel está acabando e faz questão de deixar aqueles dois últimos quadradinhos amassados que ficam no rolo por preguiça de trocar? Pois é. Os dois quadradinhos estavam ali. Se fosse num dia comum, tudo bem. Mas justo hoje que ela precisaria de muito? Ela levantou, abriu o armário, olhou lá dentro e cadê? É. Tinha acabado. E agora? A solução menos dolorosa seria procurar por aquela caixa de lenços de papel que sobrou da última gripe. Fazer o quê? Melhor que pegar os guardanapos da cozinha.

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