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Pra lá de Marrakech

Antagonismos. Disso é feito o Marrocos.
Lá eu vivi do completo caos-barulho-bagunça-desordem à completa tranquilidade-paz-silencio.
Mas vamos começar pelo começo. O sol! Ahhh o sol! Há mais de três meses eu não via o sol direito. Vocês não sabem o que é isso pra uma pessoa que nasceu em Governador Valadares. E quando ele aparecia e se juntava com o céu azul era só pra enganar bobo. O frio continuava o mesmo. Ou até pior. 
Aí eu chego no Marrocos e tá calor! Não o calor valadarense, lógico. Mas quente o suficiente pra ficar só de camiseta! Uma emoção. Depois de três meses me encapotando pra ir ali na esquina, poder tirar o casaco foi um momento memorável.
Mas vamos aos perrengues [que não podiam faltar]. Já começou no aeroporto. Fomos [eu e Mylena] passar pelo controle de passaporte, aí tinha que entregar uma fichinha que eles dão no avião. Um dos campos a serem preenchidos era o endereço do lugar que eu ia ficar no Marrocos. E quem disse que eu sabia? Deixei em branco. Quando eu fui pra Rússia aconteceu o mesmo e não deu problema...
Mas no Marrocos é diferente. A moça perguntou e eu disse que não sabia. Aí ela disse que eu não poderia entrar no país. What the fuck! Como assim, tia? E se eu tivesse ido sem reservar lugar pra ficar e fosse procurar lá?
Bom, o jeito era esperar nossos 12 companheiros de aventura [isso mesmo. DOZE] que estavam vindo de Portugal e iriam encontrar com a gente no aeroporto [daí a duas horas!]. Eles sim tinham o endereço. Não sem antes me culpar pela minha idiotice de ir pra um lugar com hostel reservado e não me dar ao trabalho nem de anotar o nome do lugar. E se o pessoal de Portugal não chegasse? Como a gente ia fazer? Ficar no aeroporto até dar o dia de ir embora? De uma maneira ou de outra, o jeito era esperar [pra variar um pouco]. Nesse meio tempo, um moço, vendo que a gente tava ali à vontade nas cadeirinhas, já tinha rancado os casacos e tava batendo um papo 10, foi perguntar o que a gente tava fazendo ali. A gente explicou e ele pediu pra acompanhar ele. Chamou a moça que não deixou a gente entrar, falou alguma coisa com ela. Ela pegou nosso passaoporte [com cara de cu], carimbou e nós entramos! Aí sim podiamos comemorar. "A GENTE TÁ NA ÁFRICA!"
Ao sair na rua já percebi que tinha cometido um erro. Lembra num post anterior que eu disse que o trânsito de Amsterdam era caótico? Esquece. Caos mesmo é o trânsito do Marrocos. Pior, acho que só o da Índia. Mas só por causa dos elefantes, que são um componente de peso. 
Assistam a esse vídeo pra vocês entenderem um pouco do que eu tô falando [desconsiderem as marmotas - ou considerem também...]:


Crédito para o colega Thiago Venâncio!


Muito bem explicado, né?! Não preciso entrar em mais detalhes.
Vamos então ao próximo passo: encontrar o hostel. As ruas simplesmente não têm placa, não têm nome. Não tem como saber onde você está sem perguntar. É tão confuso que acho que nem GPS funciona lá. Rodamos um tempo na tentativa vã de encontrar o lugar, mas teve jeito não. A única alternativa era nos deixar levar pelos marroquinos que vendo nossa cara de gringo perdido, vinham perguntar se precisávamos de ajuda. Fomos seguindo um desses caras. Num ponto do trajeto eu já não fazia a mínima idéia de onde eu tava [se é que em algum momento eu soube]. Aí sempre tem um mais desesperado que eu, né?! "Gente, e se esse cara tá levando a gente pro lugar errado? Olha esse caminho que esquisito. Vão roubar a gente!". Mas eu num fiquei muito preocupada não. Roubar 14 pessoas de uma vezada deve ser um tanto quanto arriscado, né?!
Chegamos. Quando a gente entrou no lugar, minha boca abriu! E só foi fechar um tempo depois. Sabe o cenário do Clone? Pois é. Eu tava lá. Já tava esperando a Jade sair detrás de uma daquelas cortinas e escutando "Somente por amooooor..."
Tá aí uma fotinha pra vocês darem um confere.


Só sei que pairou aquela dúvida, né?! É o lugar certo? Mesmo que não fosse eu queria ficar ali. Aquilo desconstruiu completamente o meu conceito de hostel. Aquilo não era um hostel. Era um cenário de novela da Globo, gente!
Como vocês viram no vídeo, também fizemos um passeio no deserto. Passamos a noite lá. De longe a coisa mais doida que eu já fiz na vida. Pegamos um ônibus [Socorram-me subi num ônibus em Marrocos!]. Viajamos sei lá quantas horas. Subimos no alto das montanhas com pico coberto de gelo. Acompanhamos a mudança de paisagem de acordo com a altitude. Uns lugares mais lindos que só vendo. Foto nenhuma consegue expressar. Uma paz...






Saímos de manhã e chegamos no lugar de troca de meio de transporte no finalzinho da tarde. Disse troca de meio de transporte porque descemos do ônibus e pegamos camelos! Um pra cada um. Duas horas no lombo do camelo [que depois descobrimos não era camelo nada, era dromedário] depois chegamos no acampamento. Não sem antes pensar de novo: "Será que esses caras tão levando a gente pro lugar certo?". Imagina: um bando de gringo, montado em camelo [ok, dromedário], numa completa escuridão, no deserto do Saara, sem saber nem pra que lado tem que correr se acontecer alguma coisa? Mas já tava lá mesmo. Se morrer, amanhã faz dois dias.
Além do mais, o céu do deserto à noite é a coisa mais linda que eu já vi na vida! Pensa em muita estrela. Mas muita mesmo. Muitíssimas! Podia me levar pra qualquer lugar debaixo daquele céu que eu tava feliz.
No final deu tudo certo. Jantamos comida típica. A galera ficou de piriri. Normal. No dia seguinte acordamos bem cedo pra ver o sol nascer por detrás das dunas. Depois fizemos o trajeto de volta...
No final, fiquei com aquela sensação de querer conhecer coisas diferentes. Porque por mais que a Europa seja bonita, é tudo mais ou menos igual, até mesmo na Rússia. O padrão é mais ou menos o mesmo. No Marrocos não tem mão e contra mão, calçada ou qualquer regra de trânsito. As construções são TODAS num tom amarronzado, cor de lama e algumas de fato são feitas de lama. As mulheres andam com as cabeças cobertas. E quanto dá a hora de rezar, os auto-falantes começam a berrar e todo mundo corre pras mesquitas, tipo quando toca o sinal do recreio. Outro mundo.
Tô pensando seriamente em fazer a minha próxima parada na Índia. Alguém me acompanha?

[eu sei que os posts tão cada dia maiores e esse superou todos os limites. mas o Marrocos merece. e como diria o gordinho dono da bola: o blog é meu, eu escrevo o tanto que eu achar necessário. vou guardar minha objetividade pra quando estiver escrevendo notícias.
se você chegou até aqui, muito obrigada!]

E não pára por aí...

E vocês acham que os perrengues pararam por aí?
Ainda teve a volta.
Muitos sites, companhias aéreas, preços, cidades e tempo depois, concluí que a maneira mais barata de voltar seria pegar um vôo de Moscou pra Dusseldorf, na Alemanha, e de Dusseldorf pra Madrid. Só tinham dois pequenos detalhes que eu não me atentei na hora que eu comprei as passagens [ou que pelo menos naquela hora não eram um problema]: 1) meu vôo chegaria em Dusseldorf umas 18h, 18h30 e o vôo pra Madrid só sairia por volta das 13h do outro dia [ou seja, mais muitas horas intermináveis no aeroporto]. 2) o vôo pra Madrid sairia de um aeroporto diferente.
Só quando cheguei em Dusseldorf caiu minha ficha: "Putz! Vou ter que passar pelo menos 13h nesse aeroporto, sozinha - isso sem contar as outras 6h horas entre o trajeto pro outro aeroporto e esperando dar a hora do embarque". Mas naquela altura do campeonato já num tinha muito o que fazer. O jeito era esperar mesmo. E se tem uma coisa que essa viagem me ensinou, essa coisa foi esperar. Foram intensos exercícios e provas até eu alcançar o Nirvana da paciência. Um nível máximo de abstração que nada mais conseguia me fazer ficar nervosa ou ansiosa [pelo menos não como antes].
A sorte é que eu tinha levado os "apuntes" das matérias que eu ia ter prova na semana seguinte. Graças a Deus. Porque na completa falta do fazer não me restou nada além de estudar. E só assim mesmo pra eu estudar alguma coisa. Mas não sem antes dar uma voltinha no aeroporto. Conferir os preços do free shop e ver que realmente os preços dos supermercados de Salamanca são melhores. Ir no banheiro. Procurar saber como faz pra chegar no outro aeroporto. Ir no lugar onde pega o trem. Fazer um lanchinho... Depois disso tudo, achei que já tinham passado pelo menos umas três horas, né?! RÁ-RÁ! Chuta quanto tempo?
Pouco mais de uma hora. É. Tinha tudo pra ser a noite mais longa da minha vida. Estudei até enjoar [ou seja, por volta de uma hora e meia]. E ainda tinha toda uma noite pela frente.
O aeroporto foi ficando vazio. Poucas almas circulando. As luzes se apagando. Era só que faltava, né?! O aeroporto fechar e eu não poder ficar lá. Como eu ia arrumar um lugar pra ficar plena 10h da noite? Mas, como eu disse antes, nada que afetasse meu humor. Se tivesse que dormir na rua a gente dormia. Ainda mais na Alemanha. Tranquilo. O único problema seria o frio.
Mas não foi necessário. Dormi como um anjo. Acordei umas 5h da manhã e fui procurar horário de trem pra ir pro centro. Cheguei na estação central umas 7h da manhã, eu acho. Os alemães realmente acordam cedo [na Espanha, uma hora daquela, as únicas pessoas que você vê na rua são os lixeiros e bêbados voltando de baladas]. Mesmo assim o guichê de informação não tava aberto. E eu não conseguia encontrar o local pra pegar o ônibus pro outro aeroporto.Todas as placas em alemão, né?!
Fui pedir informação no guichê da companhia de trem. O moço disse que eu poderia pegar um trem pra cidade onde fica o outro aeroporto. Ok. Vamo lá então. Mas até eu me entender com a máquina que vende as passagens eu já tinha perdido o trem que o moço falou. Fui caçar nos murais o horário do próximo. Depois de muito esforço descobri que tinha um daí a meia hora. Fui pra plataforma e procurei alguém com cara que falava inglês só pra tirar a dúvida se era o trem certo. Era. Entrei. Sabia que seria por volta de uma hora de viagem. Só tinha um detalhe, no papel que o moço me deu só tinha o nome de umas três cidades no trajeto. Em menos de meia hora o trem já tinha parado nuns cinco lugares diferentes. Mas deixa pra lá, né?! Nenhum deles tinha o nome do lugar que eu tinha que descer, então vamo continuar...


Até que chegou em um lugar e a voz do além anunciou que quem quisesse ir pro aeroporto podia descer ali e pegar um ônibus. A cidade não era a mesma que eu deveria descer, mas como a voz disse, quem sou eu pra contrariar. Não pensei duas vezes e desci do trem. Depois que eu desci e o trem seguiu, pensei: "Acho que eu fiz uma grande cagada". Mas já tava feita, né?! Então vamo procurar o lugar que pega o tal do ônibus. Caminhei nos entornos da estação procurando um ponto de ônibus. Achei. Mas, lógico, os nomes das linhas estavam todos em alemão. E nada parecido com "aeroporto". Nenhuma pessoa na rua pra eu perguntar. E eu não sabia sequer o nome da cidade onde eu estava. Louco, né?! Perdida em algum lugar da Alemanha que eu nem sabia onde. Se acontecesse alguma coisa comigo ali, ninguém me encontrava!
Mas a sorte bateu na minha porta. Um senhor, vendo que eu tentava ler as linhas de ônibus, me gritou lá do outro lado da rua e perguntou se eu queria ir pro aeroporto. Em inglês! Eu disse que sim. Ele apontou pra uma praça e falou pra eu correr. Só deu a Tainá correndo pelas ruas de algum lugar da Alemanha. Consegui pegar o ônibus. E que felicidade foi ver o letreiro do aeroporto alguns minutos depois!

Em nome do amor

É amiguinhos, tem coisas que a gente faz na vida que a gente nem entende o porquê. Só sei que bate aquela vontade, a gente vai lá e faz. E não é de piriri que eu tô falando.
Bom, mas vamos fazer uma retrospectiva pra que vocês entendam melhor.

Tudo começou quando a donzela aqui resolveu chutar o balde, largar a mordomia da casa da mamãe, o um ano de faculdade ja concluído, o estágio que ela adorava, os amigos, enfim... Toda uma vida já "consolidada". E foi  pra onde? Foi tentar a vida em Juiz de Fora. Na Facom, mais especificamente. E desde o início ela tinha um objetivo: como estudaria em uma universidade federal, com convênios com universidades do mundo todo, ela queria ir mais longe que os quase 500 km que separam Juiz de Fora de Governador Valadares. Queria ir estudar na Zoropa.
Então ela correu atrás. Tanto fez que conseguiu. Mas eis que no meio dessa trajetória aparece um manolo-bruxão-pirata-Wolverine. Ela se apaixona por ele. E aí? Comofas? Seis meses longe do namorado. A maioria da galera desiste antes mesmo de começar. Afinal de contas, intercâmbio = zuação-pegação-festa loka-gringos bonitões doidos com brasileiras. De fato ela viu muito disso por essas bandas. Mas ela sabia o que queria e não desistiu.




O que acontece é que no meio do caminho o manolo-bruxão-pirata-Wolverine dá a seguinte notícia pra ela: tô indo pra Rússia. Vou ficar lá seis meses!
Ela ficou feliz com a notícia. É que era o sonho dele que estava prestes a se realizar. E ele trabalhou muito pra isso. Mas foi inevitável pensar: Porra-Caralho-Fudeu! Seis meses a gente aguenta. Agora um ano é complicado, né galera. Haja amor! Fala aí...
Adivinhem qual foi a primeira coisa que ela pensou? Não. Não foi: "vou terminar". Foi: "preciso ir pra Rússia!". Isso mesmo. Ela resolveu que iria pra Rússia. Simples, né?! Ali, na Rússia. Deu um jeito de juntar uma grana  pra comprar utensílios de frio. Arrumou vários (na verdade foram dois. mas é sempre bom exagerar um pouquinho) contatos na Rússia que poderiam ajudar nessa empreitada.
Chegando lá, ela não tinha a mínima noção do que a esperava. Só sabia que ela tinha que ver o namorado antes de ir embora da Europa. E tinham falado pra ela que todo mundo lá falava inglês. Que nas placas a informações estavam escritas no alfabeto russo e no nosso alfabeto.. Enfim. Mel na chupeta, né?!
É. De fato foi uma doce ilusão. Nem no aeroporto a galera falava inglês direito. Vocês tem noção? Aí ela tava ali, sozinha, porque o namorado só chegaria daí a dois dias. Ninguém entendia o que ela falava. E ela não conseguia ler nada, nem a passagem de trem  pra chegar no centro, pra saber qual a plataforma correta. Um completa analfabeta de pai e mãe. Foram várias tentativas de pedir informação. Pensou até em ficar no aeroporto até o dia do namorado chegar. Vai que ela pega o trem errado, desce num lugar desconhecido, sem poder se comunicar com ninguém, sozinha, num frio de menos sei lá quantos graus? Mas ficar no aeroporto sem banho não rolava. Resolveu arriscar. Entrou no trem que a galera tava entrando e seja o que Deus quiser!
Aí, uma voz do além anunciou a estação que o trem ia parar. Era a mesma que ela tinha olhado na internet. Ufa! Tava no trem certo. Então passou o caminho todo pensando: Puta que pariu! O que que eu vim fazer aqui? Como meu pai me deixou fazer essa insanidade? Olha esse frio (a essa altura do inverno ela já tava doida pra sentir calor, andar de chileno Havaiana na rua e com roupas que deixassem os joelhos a mostra. Aí ela escolheu o lugar perfeito pra ir, né?! A Rússia)!
Já tava a ponto de ligar pra mãe dela e pedir: "mãe, vem me buscar!". Mas já num tinha jeito. Como dito no post anterior: tá no inferno, abraça o capeta. O próximo desafio era o metrô. Quando ela chegou lá pensou: quem foi o infeliz que disse que nas placas tinha tudo escrito no alfabeto ocidental? Vou trazer ele aqui agora pra ele ver. E o mais legal era que a informação que ela tinha pegado na internet só tinha o nome da estação que ela deveria descer no nosso alfabeto. Mais uma vez: Fudeu! Mas ela não desistiu. Uma vesão russa pro Joseph Klinber! Encontrou um mapa que tinha os nomes em ambos alfabetos. Aí anotou o nome em russo. "Uma coisa parecida com um B. Um R de trás pra frente. Um quadrado sem a parte de baixo..." E assim foi. Na hora de pegar o trem, tinha que conferir letra por letra. E não era igual o metrô de Barcelona, que a mulherzinha anunciava o nome da estação e acendia uma luzinha indicando. Era se vira nos 30. Tinha que rebolar pra conseguir enxergar na parede qual estação que tava parando.
A hora que ela chegou no hostel, falou com a recepcionista e a menina entendeu e respondeu! Foi uma das maiores alegrias da vida dela. Aí pensou: "Caralho! Sou foda. Consegui. Agora pode me soltar até na China que eu chego onde eu tenho que chegar".
Mas não pára por aí. No dia do namorado chegar ela foi pro aeroporto. Chegou lá cedo e ficou esperando. Viu no painel que o vôo ia atrasar. Normal. Esperou mais um pouco. Deu a hora. Foi pro portão de desembarque. Tava com câmera preparada pra tirar foto, cartazinho com declaração de amor (tá. eu sei que é brega!)... E cadê o menino? Passou meia hora. Uma hora. Uma hora e meia. O vôo saiu do painel e nada. Aí sim ela pensou: Fudeu de verdade. E agora? Será que ele ficou preso na imigração? Será que deu problema na bagagem? Será que ele perdeu o vôo? Será que era uma pegadinha ele não vinha pra Rússia nada? Cadê a câmera?
Quase duas horas depois que o vôo tinha pousado, ela tomou uma decisão drástica: "vou chamar a polícia!" Mas o primeiro policial que ela abordou, pra variar, não falava inglês. Tentou outro. Esse sim! Ela explicou a situação e ele ajudou. Levou ela lá no "baggage claim"! Não sem antes pedir o passaporte e falar: "Brasil! Samba! Rio de Janeiro"!
Ela olhou pra um lado, olhou pro outro e nada do bofe (nisso o policial tava segurando a plaquinha com a declaração de amor!).
Eis que de repente ela olha pra frente e quem ela vê? O manolo-bruxão-pirata-Wolverine!
Ufa! Deus é bom! Ele veio.
Aí foi só partir pro abraço. E pro beijo!


A aventura pra chegar à Rússia

Depois de umas "férias" no Marrocos, voltamos com os capítulos da viagem...

Já tinha toda a programação da viagem pronta. Mas no meio do caminho os planos mudaram. Ao invés de voltar pra Espanha no dia 14 com a Veronika, a louca aqui resolveu dar um pulinho ali na Rússia. Depois de procurar todos os meios de transporte pra sair da República Tcheca e ir parar no extremo leste da Europa, descobri que não tinha jeito. Ir direto da Rep. Tcheca pra lá seria uma fortuna. Teria que caçar um roteiro alternativo.
Como contado em um post anterior me perdi em nomes de cidades, conheci todas as companhias aéreas do mundo e cheguei a conclusão de que teria que pergar um trem pra Berlin e de la um vôo pra Moscow.
Falei com a Veronika a respeito e ela disse que não precisava comprar passagem de trem com antecedência, porque os preços não variam. Então comprei só o bilhete de avião e nem me preocupei com isso mais. Cheguei na Rep. Tcheca e era tanto lugar pra conhecer, tanta gente, várias pequenas viagens, que eu nem lembrei de comprar esse bendito desse bilhete de trem.
Um dia antes, quando a gente estava em Brno, surgiu o assunto da minha viagem. Todos os amigos da Veronika disseram que ir de trem pra Berlin era MUITO caro. Que era melhor ir de ônibus. Estranhei, porque na internet o preço da passagem tava 30 euros. Eu tinha certeza disso. Na volta pra Vysoké Mýto perguntamos na estação o preço da passagem. Realmente era uma pequena fortuna. Fudeu, né?!
Chegamos em casa e fui olhar o tal do ônibus. Saía de Praga às 7h30 da manha. Pra chegar lá a tempo, eu teria que pegar um onibus tipo 3h45 da manhã. Que beleza!
E nesse meio tempo, eu ainda recebo um e-mail me comunicando que o motivo da minha viagem pra Rússia não estaria lá na data planejada. Só chegaria dois dias depois. 
E agora? Como diriam os espanhois: JO-DER!
Bom, mas as passagens de ida e de volta pra Rússia já estavam compradas. Pra mudar seria mais uma pequena fortuna. E se eu não fosse ainda tinha que arrumar um jeito de voltar pra Espanha de lá da Rep. Tcheca. O que fazer? Já que tá no inferno, abraça o capeta, né?! Vão bora pra Rússia e seja o que Deus quiser. Na pior da hipóteses, ia ser mais lugar que eu conheci.
Mas aí tinha que resolver ainda se eu pagava uma fortuna no trem, ou saía de madrugada pra pegar o ônibus. Optei pelo trem. Mas não tinha como comprar pela internet. Ia arriscar chegar na estação e comprar na hora. E se não tivesse passagem, já era. Porque não ia dar pra pegar o ônibus mais. Segura na mão de Deus, meu amigo.
No outro dia de manhã fomos conferir o horário do trem. Descobri que eu teria que trocar de trem duas vezes e que em uma dessas trocas eu teria 4 minutos pra sair do meu trem, ir no saguão da estação, procurar a plataforma do outro trem, achar a plataforma e embarcar. Na outra troca, que seria em Praga, eu teria 10 minutos pra sair do trem, ir no saguão, achar o guichê da companhia, comprar outra passagem (rezando pra não ter fila) e voltar pro trem. Isso porque eu não tinha dinheiro o suficiente pra comprar todas as passagens, e segundo a Veronika, a estação que eu pegaria o primeiro trem não aceitava cartão. Só em Praga que seria possível comprar a passagem. Detalhe: tudo isso em tcheco!
Momento de pânico.


Preferi não sofrer por antecipação. Se as coisas dessem certo era porque tinha que dar mesmo. Porque o índice VDM (Vai Dar Merda) tava alcançando níveis imensuráveis. Nem a Veronika tava acreditando que eu ia conseguir chegar em Berin. 
Chegamos na estação e tivemos uma grata surpresa. Tinha um trem mais cedo. Ao invés de 4, eu teria 17 minutos pra achar o outro trem. E o melhor! Lá aceitava cartão sim. Eu não ia precisar sair do trem pra comprar outra passagem. Aí ficou fácil!
Quando pensei nisso, me esqueci que estaria tudo em tcheco na estação que eu teria que trocar de trem. Desci na estação certa. Mas quem disse que eu achava a plataforma do outro trem? Impossível. Não consegui identificar no painel. Perguntei pra um monte de gente. Mas ou eles não falavam inglês ou não sabiam informar. Até que eu cheguei no maquinista de um trem que ia pra Praga. Já tinha falado com ele antes. Mas meu desespero era tão grande que eu resolvi tentar de novo. Se eu perdesse aquele trem, adeus Rússia...
Falei com o moço. Ele não conseguia me responder em inglês. Só apontava pro outro lado. Até que uma boa alma que tava por perto, ao ver nossa dificuldade de comunicação e todo o meu desespero, se aproximou e perguntou o que tava acontecendo (em inglês!). Aí eu mostrei o meu bilhete e ele disse que tava esperando o mesmo trem. Que eu podia esperar com ele. ALELUIA! Deus é bom.
Consegui chegar em Berlim! Da estação pro aeroporto foi um pulo.


Parlamento alemão

Próximo capítulo: Você já fez uma loucura por amor?









Bota a tcheca pra sambar!

Enfim, República Tcheca!

Posso falar? O lugar mais foda que eu conheci. E nem é pela "buniteza" não.
Não. Também não tô falando que o país é feio. De fato é bem bonito. Mas o que mais me encantou foram as pessoas. Todos me receberam tão bem, mas tão bem, que eu nem sei explicar. Antes mesmo de eu chegar, a Verônica [minha amiga tcheca que me levou pra conhecer o país] já tava me avisando que tava todo mundo doido pra me conhecer. "A brazilian girl!". Brasileira tem fama, né?! Eles deviam estar imaginando uma mulata, popozuda, passista de escola de samba, semi-nua. Aí chega eu lá. Baixinha, branquela, toda encapotada, morrendo de frio. Bom, mas nem por isso eles deixaram de me dar atenção. Muito pelo contrário. O carisma brasileiro ultrapassa os estereótipos.
Logo na primeira vez que a gente saiu lá as pessoas já vieram puxar papo, pagaram comida e bebida pra mim, me deram souvenirs... E não acreditavam que eu era brasileira. Não porque eu não pareça brasileira, mas porque acho que pra eles uma pessoa do Brasil é uma coisa tão distante que ver uma assim de perto é quase uma emoção!


Eu e Veronika em Praha

E foi assim durante toda a semana que eu passei lá. Eu me sentia uma jaguatirica no zoologico. A Monalisa no Louvre. Todo mundo queria me ver, me conhecer. E as pessoas eram tão simpáticas. Se esforçavam pra conversar comigo, porque eu não falo tcheco. Na minha lista de opções tinha inglês, espanhol e português. O português pode descartar. Espanhol eu encontrei umas duas pessoas que falavam. A comunicação era feita mesmo em inglês. Mas nem todos falavam muito bem, então tinham que se esforçar. Como eles têm um acento bem marcado, no começo eu tive um pouco de dificuldade pra entender. Mas com dois dias eu já tava até apresentando um sotaque parecido com o deles.
Muitas vezes a Verônika teve que servir de intérprete pra mim. Mas no final eu já tava espertinha. Ficava prestando atenção e era capaz até de falar qual era o assunto da conversa. E eles ficavam abismados. Porque o tcheco é muito diferente. Parece até que não é de Deus. Tanto é que a sonoridade é quase a mesma coisa de escutar um disco da Xuxa ao contrário. Sério. Parece que eles tão falando de trás pra frente. E a escrita? Tem acento em tudo quanto é letra!
De todos os países que eu visitei [tirando a Espanha, lógico], foi o único que eu deixei um pouco de lado o espírito de gincana turística [você tem um mapa, quatro dias e 50 lugares para visitar... TEMPO!] e vivi como o povo daquele país. Acho que eu comi todas as comida típicas. Que por sinal são muito boas! Não imaginei que fosse gostar tanto. E experimentei a cerveja tcheca, claro! Êta povo que bebe. Bebe e fuma. Fuma mais que bebe. Todo mundo fuma! Incrível. Tem lugar que é impossível ficar. Por causa do frio, fica tudo fechado e aquela nuvem de fumaça. Devo ter fumado passivamente todos os cigarros que eu não fumei na vida. Era o único inconveniente.
E pra terminar, lógico que eu tive que mostrar o vídeo do É o Tchan!