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Você já ouviu falar de Warszawa e Wien


Pra vocês verem como são as coisas... Há algum tempo venho travando uma batalha a procura de passagens baratas para viajar pela Europa. Inclusive já fiz um post sobre o assunto. E durante a busca eu esbarrei em alguns problemas. Um deles, talvez o mais improvável e inusitado, foi o nome das cidades e dos países. Quando eu clicava na listinha de destinos apareciam tantos lugares que NUNCA tinha ouvido falar na vida [e que tinham aeroporto internacional], que eu me sentia muito ignorante. Mas eram muitos mesmo.

Segue o meu raciocínio: você está procurando passagens e vê na lista de destinos as seguintes cidades: Warszawa e Wien. Além de um país chamado Osterreich e outro chamado Magyarország. Aí você pensa: "devia ter estudado mais geografia! Nunca ouvi falar desses lugares". Mas como você está muito ocupada pra matar a curiosidade e procurar onde ficam esses lugares, continua a sua busca por destinos. E entre as possibilidades para um trajeto mais barato, estão Varsóvia e Viena. Mas por razões até então desconhecidas as benditas cidades quase nunca apareciam nas listas das companhias aéreas.

Foi então que, depois de dois dias procurando, resolvi consultar um mapa pra saber onde ficava aquela quantidade de cidade com nomes estranhos. Simplesmente descobri que as cidades citadas são respectivamente Varsóvia e Viena. E que os países são Áustria e Hungria...
[PALAVRÃO - o que você quiser, o que melhor se adequar ao contexto (isso é que é interatividade com o leitor!)]


Não sei descrever o que eu senti naquele momento. Caralho! Eu passei horas na frente do computador procurando um jeito barato de realizar o trajeto e, de repente, descubro que o que eu estava procurando estava ali. Só que com outro nome. E que nome! Quando, na minha vida, eu ia imaginar que Warszawa é Varsóvia, gente? Agora que eu já sei, eu até consigo achar uma semelhança [bem de longe]. Mas antes, nem no meu alto estado etílico, amiguinhos.

Agora eu me pergunto: quem foi a pessoa inteligente que resolveu mudar tão drasticamente o nome das cidades e dos países? Brasil com Z e Brasil S dá pra identificar tranquilo. Mas de Warszawa pra Varsóvia vamo combinar que alteraram a essência do nome. Por isso, eu acho que deveria haver um padrão internacional de nomes de países. E na escola deveriam ensinar esse padrão. Eu já tava me achando mega ignorante em geografia porque nunca tinha ouvido falar de um país chamado Magyarország.

Outro exemplo é a Holanda. Quer confusão maior? Holanda, Netherlands, Países Baixos. Juro que eu demorei a entender que Holanda e Países Baixos eram a mesma coisa. Pra mim Países Baixos eram vários países, tipo Escandinávia. E não um só. E Netherlands? Eu só sei que é Holanda por causa do álbum de figurinhas da copa.

É amigos, cada dia uma nova surpresa. Cada dia uma nova descoberta...

O gás

Quando o gás da sua casa acaba o que você faz?
Vai lá na porta da geladeira, procura no meio dos ímãs com telefone de tele-entrega de pizza; hamburguer; galão de água; o que tem formato de coqueiro, que a sua tia trouxe de lembrança de Fortaleza; o que o seu irmão fez na escola pra dar pra sua mãe de presente de Dia das Mães e aquele com formato de vaca, que faz "MUUUUU" se você aperta, que sua mãe comprou no auge da Ana Maria Braga na Record [mas que não faz "MUUUUU" mais porque já estragou], aquele com formato de botijãozinho, que tem o telefone do tele-gás, certo?! Aí você liga e pede pra entregarem na sua casa. Em no máximo duas horas o entregador toca a campainha, entra, tira o botijão vazio, coloca o cheio, pega o dinheiro e vai embora. Pronto! Você já pode usar o seu fogão normalmente.
Mas se engana quem pensa que é fácil assim em todos os lugares do mundo. Vou contar pra vocês o drama de quatro estudantes estrangeiras na Espanha. Tudo começou no sábado à tarde. Estávamos felizes cozinhando nosso almoço, quando de repente, o fogo começa a ficar fraco. Fraco, fraco. Fiquei na peleja alguns minutos, mas desisti. A comida já estava num ponto comível. Então desliguei o fogão e fui almoçar.
À noite, horário que as belgas fazem a refeição delas [elas não almoçam], eis que se ouvem gargalhadas na cozinha. Até aí nada de anormal, já que elas são muito felizes. Até que uma das Charlottes vem até a mim e pergunta se o gás tinha acabado. Eu disse que achava que sim, porque o fogo tava fraco a hora que eu fiz meu almoço. Aí ela perguntou como proceder. Eu logo pensei no imã de geladeira em formato de botijão. Mas aqui eles não têm imã de geladeira em formato botijão. Mas antes de chegar a essa conclusão pensei: "será que na Bélgica não tem tele-gás? Como eles fazem?".
Depois de algumas divagações mentais, lembrei que a dona do apartamento tinha deixado um papel com o nome da empresa que distribui as "bombonas de butano". Procurei o bendito do papel. Quando achei, tinha um número de telefone esquisito. Olhando melhor, percebemos que tinha uma data e que essa data era de 1900 e Guaraná de rolha. Descartamos. Então procuramos no catálogo. Mas como era final de semana, e para os Espanhóis o descanso é sagrado, deixamos pra ligar na segunda-feira. Enquanto isso viveríamos de lasanha de microondas.
Chegou segunda-feira. Tentamos ligar nos números do catálogo. Não atendiam. Estava na hora da siesta [outra divagação: pensa bem. Pra você descobrir que não tem gás, você tem que estar usando ou tentando usar o gás, certo? E qual a hora mais comum para se usar o gás? A hora do almoço, correto? Por isso, vai dando 11h, 11h30, você já ouve ao longe a musiquinha do caminhão de gás no Brasil, de acordo? Agora me explica como as distribuídoras de gás fecham na hora do almoço, gente?]. Os que atendiam diziam que não faziam entrega [todo mundo tem carro na Espanha, pra ir buscar o botijão?].
Pensamos em perguntar pra vizinha. Mas estava na hora da siesta [jamais toque a campainha na casa de espanhol na hora da siesta]. Resolvemos deixar pra mais tarde.
Chegou "mais tarde". Tocamos. Explicamos a situação e a mulher nos deu um número desses pra pedir informações. Ligando pra lá eles nos forneceriam. Só tinha um detalhe: o número só recebe chamada de telefones fixos e aqui em casa nós só temos celular. Isso já era segunda à noite.
Aí apelamos pra todos os recursos. Até no Facebook eu postei, perguntando se alguém sabia um número que a gente poderia ligar. Conseguimos um número que a gente ainda não tinha tentado. Mas já era terça-feira à noite...
Na quarta de manhã, outra tentativa. Agora sim! Deu certo. Mas eles só poderiam entregar no dia seguinte. É. Na Espanha eles são muito tranquilos. Depois de vários dias comendo lasanha de microondas, procurei uma receita na internet e fiz um macarrão de microondas, pra variar um pouco. Por incrível que pareça, ficou bom.
No dia seguinte, cheguei em casa na certeza de que poderia cozinhar. Mas me deram a notícia de que o cara chegou super mal humorado, colocou o botijão e já ia saindo sem "conectar" na mangueirinha. Aí pediram pra ele "instalar". Ele disse que não era função dele, que ele já tinha explicado mil vezes, fez uma demonstração rápida, pegou o dinheiro e foi embora. E largou o botijão sem instalar. E nenhuma de nós quatro sabia como fazer [as belgas não sabiam nem que tinha que ligar pra pedir um botijão!]. As meninas tentaram, mas o fogo não acendia. Ao que tudo indicava não estava vazando. Mas era melhor pedir pra alguém com "experiência" pra fazer pra gente, né?! Batemos no vizinho da frente, mas ele não estava..
Quando já tínhamos perdido as esperanças de almoçar, a campainha toca. Olhei no olho mágico. Não era a moça, Testemunha de Jeová, que sempre bate no nosso apartamento [toda vez que a campainha toca achamos que é ela]. Era o vizinho! Como se fosse a coisa mais simples do mundo, ele tirou o treco [sei lá como chama aquilo] e encaixou de novo no botijão. Testamos e deu certo!
Ufa! Depois de quase uma semana, podemos voltar a comer "decentemente".
E nada de lasanha de microondas por um bom tempo.


La Bombona!


*Anote este número: 923 222 200. Se você morar em Salamanca, ele poderá ser muito útil.

Então é Natal


É chegado o momento do ano no qual todos os estudantes intercambistas ficam loucos, alvoroçados, inquietos e ansiosos. O motivo? Não. Não são as provas finais [que muitas vezes também são iniciais. É que a maioria dos professores só dá uma prova no semestre!]. O motivo são as mini-férias de final de ano, que dão uma folguinha pra gente no Natal e no Ano Novo.

A maioria dos brasileiros, pra não dizer todos, vai passar as festividades longe de casa, já que o preço da passagem pro Brasil é um absurdo. Então, salvo exceções, não compensa pagar essa fortuna pra passar, sei lá, 10 dias em casa e depois voltar pra cá, pra um mês depois voltar pro Brasil de novo. Melhor usar esse dinheiro pra conhecer a Europa, né não? É aquela coisa, a nossa casa vai estar sempre lá. Nós sabemos que vamos voltar. Sabemos até a data! Mas a Europa... Sabe lá Deus quando, e se, eu vou voltar ao Velho Continente.

Bom, mas essa volta toda é pra falar da odisséia que é planejar uma viagem, comprar as passagens e reservar lugar pra ficar. No início você está super empolgado. Uhul, vou fazer um mochilão pela Europa!!! Aí faz uma listinha com todos os lugares que você quer conhecer e descobre que se seguir esse planejamento você vai visitar 30 países em 15 dias! Não dá, né?! Aí começa a cortar e deixar só os que você quer MUITO conhecer. Sobram um 12. É, ainda é muito. Aí você passa a outro critério: onde eu vou passar o Natal e o Ano Novo? É amigos, a gente vai estar viajando. Super legal! Imagina passar o Natal em Paris? Agora imagina passar o Natal em Paris sozinho. Não rola, né?! Então começa a caça por um destino. Aí vão mil mensagens no Facebook, e-mails, conversas do Skype até descobrir pra onde a galera tá indo. De preferência os brasileiros, com os quais é mais fácil estabelecer uma comunicação eficaz, eficiente e efetiva. Imagina você no Natal conversando com um alemão e ele com um dicionário na mão procurando como se fala Papai Noel em espanhol pra fazer uma piadinha?


Decidido isso fica mais fácil estabelecer onde a viagem começa e consequentemente os próximos destinos. Aí vem a parte crucial: procurar preço de passagem. Todo mundo fala que viajar pela Europa é super barato. Que trem é barato, avião é barato. Bom, se comparado ao Brasil por exemplo... Eu gasto R$200,00 de passagem de ÔNIBUS toda vez eu vou pra casa. Por esse mesmo valor é possível comprar uma passagem DE IDA pra algum país da Europa em companhias aéreas low cost. Às vezes dá pra comprar até ida e volta se a promoção for boa. Quanto aos trens, bom, existem uns passes pra conhecer x países em x dias que são interessantes. Ou então viajar durante a noite. Ou ainda, no Leste Europeu, viajar na terceira classe durante a noite [#medo]. E tem os ônibus também. Dependendo do seu destino, por exemplo da região que eu estou na Espanha pra Portugal, compensa muito. Fora isso, todas as passagens que eu olhei eram mega caras. 
Aí você procura e encontra passagens com preço bom, albergue com preço bom e fica super feliz! O problema quando você junta tudo e vê quanto vai dar no final... Um pequena fortuna. Hora de cortar mais alguns destinos. No final, dos 30 países, você acaba conhecendo uns quatro. E às vezes nem são os que você mais queria conhecer. Mas levando em conta fatores como preço e "onde a galera vai" é o que tem pra hoje.
  
Depois de toda essa divagação, vamos à parte prática. Seguem alguns links importantes:

http://www.flylowcostairlines.org

O primeiro é de um rastreador de copanhias aéreas low cost. Muito útil. Você coloca o local de partida e o local de chegada e ele te dá uma lista das companhias aéreas low cost que fazer o trajeto.

Os outros são de comparação de preço de vôos. Vale a pena dar uma olhada nos preços que eles colocam. Mas outro dia fui comprar por um deses sites e cheguei a conclusão de que fica mais caro que comprar pelo site da propria companhia aérea. Eles te dão um descontinho de uns cinco ou dez euros pra te enganar, mas depois caem matando nas taxas de sei lá o que, e acaba ficando mais caro que comprar direto. Então só é bom pra saber qual voo tem preço mais barato e depois ir no site da companhia pra comprar. É bom ver em vários sites, porque alguns não rastreiam uns voos que outros rastream. E na hora de comprar, se for pagar com cartão de credito, o preço sempre aumenta um pouco. Pelo que eu vi até hoje, o ideal é comprar com Visa Electron, que nao paga nada de taxa. Mas precisa ter dinheiro na conta. As outras opções, como crédito e débito, aumentam entre dez a quinze euros o preço da passagem. 

Então tem que  fazer o seguinte: achou uma passagem mega barata em algum desses sites de comparação? Faz como se você estivesse comprando. Vai preenchendo o que eles pedem até chegar no momento de pagar. Porque é nessa hora que você vê o preço de verdade da passagem. Na hora de pagar, eles colocam mil taxas de mil coisas, que às vezes as taxas ficam mais caras que a propria passagem. Depois vai no site da companhia aérea, procura o mesmo voo e repete o procedimento até chegar a hora de pagar e vê se o preço é o mesmo. Eu, particularmente, acho mais seguro [e barato] comprar pelo site da própria companhia. 
É um grande exercício de paciência e força de vontade. Principalmente se você já tiver buscado em todos os sites e a passagem for realmente cara. Aí é tentar partir pra rotas alternativas com escalas e troca companhia.

Chega, né?! Depois eu volto pra falar da reserva de albergue.

Stencils em Salamanca

 Hoje o post é um pouco diferente. Mais imagético. Já tem um tempo que eu quero colocar essas fotos aqui, mas sempre arranjo outro tema. O que se segue são alguns dos stencils que se pode encontrar caminhando pelas ruas de Salamanca. O que eu coloco aqui é só uma amostra. É possível ver muito mais. Mas nem sempre eu estou com a minha câmera pra registar [no início eu levava pra onde eu fosse, mas, como eu disse no post anterior, passou a novidade e eu parei de levar].

Boa parte deles tem um cunho de protesto. Outros têm toda uma história por trás. E tem aqueles filosóficos...
 
Vamos começar por um que já foi tema de um post no blog há um tempo atrás. O do "Carlos, ni olvido, ni perdón". Acho que é um dos que mais aparece nas ruas. Se você não acompanhou, é possível conferir a história completa aqui.


O próximo também é bastante difundido, principalmente no centro da cidade. Trata-se de uma paródia de uma lenda de Salamanca. Vou explicar a lenda primeiro pra que vocês possam entender. É o seguinte: o edifício histórico da universidade, localizado num lugar chamado Pátio de Escuelas, tem uma fachada que é uma imensa obra de arte esculpida em pedra, cheia de elementos. Mas cheia mesmo. A ponto de você olhar e não entender muito bem. No meio desse monte de coisas tem uma rã escondida. Reza a lenda que os estudantes que conseguirem encontrar a rã, terão sorte nos estudos [não me pergunte quem inventou isso e o porquê. Só sei que eu achei a rã e espero que a lenda esteja certa]. Bom, mas é quase impossível encontrar o bendito anfíbio sem nenhuma dica. E a dica mais clássica é que ele está na alto de uma caveira. Por causa dessa lenda, a rã [junto com a caveira] é o símbolo da cidade. Tá aí uma foto da caveira com a rã em cima. Conseguiu achar?


A ideia do stencil partiu de uma iniciativa da prefeitura de Salamanca de colocar câmeras no centro histórico da cidade. Não sei exatamente o motivo, mas com certeza tem a ver com a preservação do patrimônio. Há quem diga que serve também pra monitorar o trânsito de carros, já que muitas ruas são "peatonais" [só é permitido o trânsito de pedestres - e carros autorizados]. Daí eles espalharam essas placas, com a seguinte mensagem "zona controlada por cámaras de videovigilancia":

Juntando tudo isso, criaram esse stencil aí do lado, com a caveira, símbolo da cidade, e, no lugar da rã, uma câmera de vigilância. Pra completar, a seguinte frase: "Donde esta la camara?".
Uma paródia, meio crítica, meio afronta, já que, mesmo com as câmeras, o pessoal continua fazendo stencils. 






Os próximos dois têm um cunho mais de protesto. Ao que tudo indica, fazem referência a Franco e ao ETA. Mas como os stêncils não têm legenda ou aquela explicaçãozinha do lado [igual tem em museu] fica a critério
de cada um interpretar.




E pra terminar, o mais lindo de todos. Uma referência ao livro Pequeno Príncipe. Um clássico da literatura mundial. Para alguns é um livro infantil. Mas as mensagens transmitidas por Antoine de Saint-Exupéry são válidas pra qualquer idade. Os desenhos e o coloridos das páginas são apenas um disfarce. Quando eu fui tirar a foto do stencil, tinha um garotinho passeando com seu pai. Ao me ver tirando a foto ele ficou curioso, se aproximou e perguntou pro pai dele o que era aquilo. Aí o pai explicou que a frase fazia parte do livro. Lembrei do meu pai, que me deu um exemplar quando era criança/pré-adolescente, com a dedicatória mais linda do mundo.
Fica aí a mensagem: o essencial é invisível aos olhos [principalmente pra gente que tá longe].


O universo paralelo

Faz tempo que eu não passo por aqui, né?! Infelizmente fui envolvida por uma rotina louca de mil coisas pra fazer, como boa workaholic que sou, e sempre no momento crucial do dia, quando eu tinha que escolher alguma coisa pra deixar pra amanhã, sobrava pro blog, coitado.
Bom, a princípio minha proposta era escrever aqui experiências de contraste de cultura, viagens, dicas, coisas que pudessem interessar a outras pessoas. E jamais fazer do espaço um "querido diário". Mas cheguei num momento do intercâmbio que nenhum tema é tão plausível quanto algo que soe como um post "querido diário": a metade da viagem [e talvez isso até interesse a alguém].
Por que digo isso? Porque agora já passou a novidade. As coisas já não têm o mesmo encanto de antes. As descobertas já não são tão constantes. Você já  não se perde mais no centro histórico com tanta frequência se você não leva consigo um mapa [disse "com tanta frequência" porque semana passada tava andando distraída e me perdi na Plaza Mayor. Uma vergonha. Mas é verdade].  Você já não acha o cheiro do jamon tão estranho. Você já atravessa a rua com desenvoltura. Beber água da torneira é algo super normal. Enfim, você já se acostumou com a vida aqui.
Com isso, a saudade começa a apertar. Você começa a pensar mais naqueles que estão do outro lado do oceano. Porque por mais que você conheça muita gente, todas as pessoas que você ama estão a uns 12 mil quilômetros de você. Você pode conversar, sair, rir, viajar com muita gente. Mas sempre fica aquela impressão de que tá faltando alguma coisa. Até porque, após 22 anos de vida e experiência [ui!] tenho pra mim que é muito difícil [nunca diga nunca] amar alguém depois de apenas dois meses de convivência. A não ser que essa pessoa seja seu filho. O que não é o caso.
Mas, pera aí! Como assim se acostumou? Cara, eu tô morando na Europa e estudando na Universidade de Salamanca, uma das mais importantes e antigas do mundo. Quando na minha vida eu ia imaginar isso? Como assim eu passo pela catedral e já não fico de boca aberta? Eu passo pelo moço que toca violino na Calle Toro e não paro uns minutinhos pra observar?
Outro o dia a gente conversava que isso aqui é um universo paralelo. Um parêntesis que foi aberto na nossa vida. Não é a realidade. Em fevereiro a gente vai entrar numa nave que vai transportar a gente de volta pra vida real. Um dos principais motivos é o seguinte: as pessoas. Mesmo as que eu ainda não amo e nem vou amar um dia.
Desde que eu cheguei aqui eu conheci TANTA gente. No início era uma média de, sei lá, 15 pessoas por dia [inventei esse número. Eu não ficava contando quantas pessoas eu conheci, né?!]. A tomar por base meu Facebook, que teve o número de contatos aumentado vertiginosamente nos últimos tempos. E olha que eu não adicionei nem 1/4 das pessoas que eu conheci.
Bom, tô dizendo tudo isso pelo fato de que 98% dessas pessoas [tirando os brasileiros da UFJF e eventuais amizades que podem se fortificar nos próximos três meses] que eu conversei, trabalhei, estudei, ri, chorei, viajei, bebi, dancei, eu NUNCA mais vou ver na vida [uma exceção para dizer nunca]. Não é bizarro isso? É como se elas, puff!, desaparecessem. Gente que me ajudou, que sorriu pra mim e se esforçou pra entender o que eu queria falar. Que me contou sua história e escutou a minha.
Eu posso até voltar a Salamanca. Mas elas não vão estar mais aqui. A maioria delas também vai ter entrado na nave e voltado pra realidade. É diferente de quando eu morava em Valadares e mudei pra Juiz de Fora. Eu num sei. Mas acho que é necessário um poder de abstração muito grande pra assimilar isso e achar normal.
E é nesse momento que você acorda de novo no meio dessa montanha russa de emoções [ou perde o sono, como aconteceu hoje] e pensa: Ei! Já tá na metade. Daqui uns dias acaba. Daqui a uns dias você vai acordar e sentir um calor de 40 graus. Aproveita tudo isso que é tão anormal e quadridimensional e faça valer a pena o máximo possível. Afinal de contas, você NUNCA mais vai viver isso de novo. O tempo não volta. E as pessoas que você ama estão te esperando do outro lado do oceano, na vida real.
Acho que agora já posso dormir. Boa noite. Ou bom dia!

El Camino de Santiago - Dicas

Eu fui fazer o caminho meio no escuro. Nunca tinha feito sequer uma trilha na minha vida. Já tinha entrado no mato, na fazenda minha tia, quando era criança/adolescente e segui o caminho pra cachoeira [isso já deve ter uns 10 anos! Tô velha!]. O trajeto não devia dar nem uma hora de caminhada direito. Nada muito além disso.

Como iam ser só quatro dias, nem me preocupei em comprar equipamentos especiais. Fui com o que eu tinha mesmo. Além do mais, todas as pessoas com as com as quais eu conversei, e que já tinham feito o caminho, me disseram que senhores e senhoras do alto dos  seus 60 anos conseguiam cumprir a jornada. Imaginei que não fosse ser um bicho de sete cabeças. Que não necessitasse de muita preparação e equipamentos. Ainda mais pra mim, no auge da minha juventude, com meus 20 e poucos anos. 

Ledo engano. Todos, inclusive os senhores 60 anos, carregavam em suas mochilas um saco de dormir! Mesmo que os albergues tenham a cama direitinho, acredito que pra não ter que ficar carregando esse monte roupa de cama, coberta e afins, os peregrinos usam o saco de dormir, que é quentinho, prático e ocupa pouco espaço. E eu lá no meio deles com um lençol e uma mantinha de 3 euros [pode rir!]. No começo me senti um peixe fora d'água. Um vascaíno na torcida do Flamengo. Mas depois desencanei. Minha mantinha me serviu muito bem e o saco não fez falta nenhuma. De qualquer modo, fica a dica.

Outra coisa imprescindível é uma capa de chuva. Principalmente no trecho que passa pela Galícia. Chove todos os dias alí. Tive que comprar uma no meio do caminho. Se não, ou eu me molharia completamente, até a minha alma, ou eu ficaria uma semana esperando a chuva passar. Ah! E compre uma das mais resistentes, se não você vai ficar na mão no segundo dia. Há quem prefira usar roupas impermeáveis e uma capa para a mochila. Fica à gosto do freguês.




Outro amadorismo meu foi fazer o caminho de tênis. Não que o tênis não sirva, ou machuque os pés [aliás, acho que qualquer calçado acaba machucando os pés depois de sucessivas caminhadas de uns 30km, ou mais!, por dia]. O ideal é ir com aquelas botinhas impermeáveis. Porque o tênis, depois de 15 minutos de chuva já deixa seu pé completamente ensopado. O que não é legal. E pra secar pra você usar no outro dia é um desespero!

Leve garfo, faca, colher, caneca de metal e, se possível, até uma panela! Isso mesmo. É que os albergues normalmente têm cozinha. Se você estiver no meio do nada, sem nenhum restaurante por perto, esses utensílios podem ser realmente úteis. Porque tem albergue que tem tudo. Tem albergue que tem só as panelas e o fogão. E tem albergue que tem só o fogão! Eu fui contando que todos tinham tudo e dei com os burros n'água.

Bom, esses são os equipamentos básicos para se fazer o caminho. Se você seguir as dicas, pode ser melhor sucedido que eu!

El Camino de Santiago - A história

Do dia 28 de outubro ao dia 01 de novembro, como diria um grande escritor de contos que eu admiro, eu passei pelo portal da quarta dimensão e fiquei lá por cinco dias. O motivo? Fiz os últimos 100 quilômetros [que na verdade foram mais de 120] do Caminho de Santiago.

Já tinha ouvido falar do caminho antes de vir pra Espanha. Mas muito por alto. Sabia que era uma rota de peregrinação religiosa que tinha como objetivo chegar a Santiago de Compostela. E que o Paulo Coelho já tinha feito. Nada muito além disso. Quando vim pra cá nem me liguei que eu estaria pertinho do caminho. Mas depois de quase dois meses aqui, ouvi falar bastante. Muita gente dizendo que era muito bom, uma experiência inesquecível. E eu fui ficando curiosa e com vontade de fazer.

Procurei me informar. Assisti até palestra sobre o assunto. Descobri que existem vários Caminhos de Santiago. Pelo que a professora disse na palestra, existem uns 17 "oficiais". Mas o mais famoso é o Caminho Francês, que como próprio nome já dá a entender, parte da França e cruza todo o norte da Espanha até chegar em Santiago. São quase 800km. O equivalente a um mês de caminhada.

Essas rotas de peregrinação surgiram ainda na Idade Média, quando, guiados pelas estrelas, moradores da região encontraram restos mortais do apóstolo Santiago. Sabendo disso, o Rei de Astúrias resolveu ir ao local, o que o converteu no primeiro peregrino da história. A partir daí, a notícias foi se propagando e pessoas de várias partes peregrinavam rumo a Santiago. Já o nome Compostela vem de "campo de estrelas", fazendo alusão ao fato de as estrelas terem servido como guia para o túmulo do apóstolo.

Como eu não tinha um mês para fazer o caminho todo, resolvi fazer os últimos 100km do Caminho Francês. O que corresponderia a quatro dias de caminhada [quase nada perto do um mês que os peregrinos que partem da França passam caminhando]. E ainda assim teria direito a "Compostela" quando chegasse a Santiago. A "Compostela" é um documento dado pela Igreja a todos aqueles que cumprem mais de 100 km do caminho andando, e 200km de bicicleta. Ouvi duas versões diferentes para a finalidade desse docuemento. Uma é a remissão dos seus pecados. A outra é que com a Compostela você passará metade do tempo no purgatório. Não sei qual das duas é a certa. Só sei que mais do que qualquer papel, o que fica mesmo é a experiência, que será contada ao longo desta semana.

Costumes

Salamanca é considerada uma cidade onde os habitantes falam um espanhol bastante "puro". Por isso, muita gente vem pra cá pra aprender o idioma. No curso de espanhol para estrangeiros que eu estudo tem gente de toda parte do mundo. Só na minha sala tem chinês, japonesa, sérvio, alemães [muitos alemães!], francês, italiana, turca, iraniana e váááários brasileiros. Por isso, de vez em quando, meu professor dá umas dicas de comportamento.

É muito engraçado como uma coisa banal em algumas culturas, pode ser absurda em outras e nem passar pela nossa cabeça a possibilidade de que fazer aquela coisa daquela maneira, pode ser até um insulto para os nativos.

Outro dia o professor nos ensinou sobre como receber um elogio na Espanha. Segundo ele, sempre que alguém te elogiar ou elogiar uma coisa sua, você tem que agradecer mas dizer que aquilo não é tão bom quanto parece. Por exemplo:

- Nossa! Sua casa é linda!
- Obrigada! Mas dá muito trabalho pra limpar.

Ou

-Sua roupa é muito bonita.
- Obrigada. Mas esse sapato está me machucando, a blusa pinica e o casaco está furado...

Apenas agradecer o elogio pode soar como uma grande grosseria. Por isso, em alguns casos extremos é necessário inclusive inventar um defeito [mesmo que pra você ele não exista] só pra ser "educado". Sim. O professor disse essa parte de inventar também. Pra ver se a gente tinha aprendido direitinho, após a explicação ele perguntou pra turma:

-Então, se alguém fala pra você que você é inteligente, o que você responde?

Aí tinha um alemão do meu lado que virou e falou baixinho:

- É. Eu sei!

Ainda bem que o professor não escutou!

O cinema

Ir ao cinema é um tipo de diversão garantida em qualquer lugar do mundo, certo?
Mais ou menos. Depois de quase dois meses na Espanha e de ouvir muitas lendas sobre os cinemas daqui, surgiu a oportunidade de conferir com meus próprios olhos se tudo o que falavam era verdade mesmo.

O susto começou na compra da entrada. Não aceitavam carteirinha de estudante. Pelo que a moça falou tinha a ver com o dia da semana, que era sábado. Morri em 6,20 euros. Nem quero colocar o valor em real, pra não me arrepender. Faça a conta aí você mesmo.

Ok. Entrada paga, seguimos rumo à sala de exibição. Meu Deus! Nem o menor cinema de Valadares [acho que chamava Cine Center antes de virar igreja!] tinha uma sala tão pequena, com uma tela tão pequena. Mas tudo bem. Pelo menos as cadeiras eram confortáveis.

O filme escolhido foi Cartas a Julieta. Uma comédia romântica, bem água com açucar, com Gael Garcia Bernal, perfeita para momentos em que não que se quer pensar muito no que se está assistindo. Não vou contar o enredo aqui porque é um pouco grande para explicar em poucas linhas. A moral da história é que nunca é tarde para lutar por um grande amor.

Bom, mas o post não é sobre o filme. E sim pra falar que TODOS os cinemas da cidade, por mais que tenham salas e telas maiores do que o que eu fui, só exibem filmes dublados. Tipo Sessão da Tarde. Eu perguntei pra moça da bilheteria e ela me confirmou. Não há filmes com áudio original. Até Barcelona, uma cidade grande, não escapa. Perguntei pra atendente de um dos cinemas se tinha algum filme em inglês e ela me respondeu com um contundente "Nunca!". Segundo ela, só um cinema da cidade passa filme com legendas.

É amigos, realmente os espanhóis prezam muito pelo idioma deles. Não vale falar inglês aqui não! Nem no cinema.

Obs: saudade das segundas e terças-feiras em Juiz de Fora, quando a entrada para o cinema é dois reais e o áudio é original.

Barcelona - Parte 2

Barcelona é uma cidade que respira todo tipo de arte. Para quem trabalha com criação, arquitetura, música, teatro, comunicação e qualquer outra coisa relacionada com arte [e não relacionada também!], a cidade é um prato cheio para inspiração. Um pequeno tour pelas ruas e você vê que é possível construir qualquer coisa, de qualquer forma, jeito e cor. Que não precisa de um palco pra ter uma imensa platéia apreciando sua arte. Um verdadeiro museu-palco-exposição à céu aberto.


Um dos maiores palcos coletivos da cidade é a La Rambla. Uma das ruas principais da cidade, com um calçadão que passa bem no meio dela. Esse é um dos lugares preferidos dos artistas de rua. Principalmente das "estátuas vivas" [ou seja lá qual for o nome daquelas pessoas que pintam o corpo de prata e ficam paradas imitando uma estátua]. Só que até as "estátuas vivas" de Barcelona são diferentes. Algumas bem coloridas. Outras assustadoras. E tem também as satíricas.


No quesito arquitetura, Barcelona dá show! Uma mistura de todo tipo de construção que você pode imaginar. Desde os mais modernos, coloridos e exóticos que você nem sabe como param em pé, até os mais antigos, históricos, medievais. Vários deles são muito famosos, como a Casa les Punxes e a Sagrada Família [uma igreja projetada por Gaudí, diferente de todas igrejas do mundo]. Descendo o Passeig Grácia, você se depara com prédios incríveis, como La Pederera e Casa Batlló, também do Gaudí, Casa Amatller e Casa Leó. Art nouveau, arte moderna e outros tipos de arte mais, em forma de prédio. 


O Pack Guell merecia um post só pra ele. Uma longa subida mas que vale a pena pela visão que se tem da cidade e pelas construções. Um dos lugares mais bonitos que eu já vi na vida. Gaudí é sensacional. Projetou umas coisas que parecem saídas de sonho.


Os músicos de rua são um espetáculo à parte. Eles são figurinhas fáceis pelas ruas e parques da cidade. É possível encontrar todo tipo instrumentista, desde os mais comuns, como violonistas, até aqueles que tocam instrumentos árabes exóticos. Se você for músico, resolver passear por lá e puder levar seu instrumento, às vezes dá até pra descolar uma grana tocando.



Barcelona - Parte 1


Depois de quatro dias em Barcelona, voltei com muitas histórias pra contar. Mas vamos começar pelo começo, né?! Depois de acordar às 6h30 da madrugada (sim, aqui 6h30 é muito madrugada. É algo como 5h30 no Brasil) para pegar o ônibus para Madri, então pegar o vôo para Girona e finalmente outro ônibus para Barcelona, pode-se dizer que a diversão da viagem começou à bordo da Ryanair, a maior companhia aérea low cost da Europa.

Para ir de Madri a Barcelona paguei a singela quantia de 10 euros (fora as taxas do cartão de crédito). Estranho, né?! Mega barato. Mas nós descobrimos o porque logo nos primeiros 5 minutos de voo. Todo mundo morrendo de sono, já que saímos de Salamanca 7h30 da manhã, e uma demora de mil anos pra embarcar. Uma fila imensa. Juro que pensei que não fosse caber aquele povo todo no avião. Ou então eles tinham dois vôos no mesmo portão de embarque. Depois de conseguir entrar no avião, um calor infernal. Poltronas apertadas e que não reclinavam (também, se reclinassem, a poltrona do coleguinha da frente iria chegar a três dedos da minha boca).

Depois das instruções de segurança, que ninguém presta atenção [mas que depois que acaba todo mundo fica pensando: "deveria ter decorado o que a aeromoça disse. Se o avião cair tô no sal" - pra não falar outra coisa], eis que uma voz do além começa a anunciar um produto revolucionário: um cigarro sem tabaco, que pode ser fumado em qualquer ambiente, inclusive no avião, e te ajuda a parar de fumar! Os comissários de bordo então começaram a mostrar o produto, no melhor estilo Shoptime, e a fazer demonstrações no corredor do avião [?!]. E a gente sem entender nada.

Passado o cigarro, pensamos que daria pra dormir. Doce ilusão. Eles começam a oferecer os produtos da revista Ryanair: relógios, perfumes e uma vasta de gama de tudo o que você imaginar... Logo em seguida, começa o serviço de bordo. Pago. Lógico! Numa passagem que custou 5 euros não poderia estar incluso aquele lanchinho da TAM, com suquinho, sanduíche e biscoito doce. Na Ryanair você pode arrematar uma garrafinha de água de, sei lá, 500ml, por 3 euros [só para dar um parâmetro, no mercado você compra uma garrafa de 1,5L por 40 centavos].

Quando finalmente a gente conseguiu pegar no sono, depois de alguns minutos de silencio, soa uma música triunfante e a voz do além anuncia: "é chegado o momento mais esperado do voo!". Aí a gente: "Uai? Já chegou? Vai pousar?". Então a voz diz: "A loteria Ryanair!". Não teve jeito, tivemos que rir. E a voz continuou falando maravilhas da loteria. A essa altura todo mundo já tinha desistido de dormir.

Tá mais que explicado o preço da passagem e porquê dos vôos só serem dentro da Europa. O pior [ou melhor, já que é o que deve sustentar a companhia] é que tem gente que compra perfume, loteria, etc etc... Resumindo: a Ryanair é o maior shopping aéreo do mundo! E no final das contas, ir e voltar de Barcelona por 10 euros foi um ótimo negócio, além de uma experiência, no mínimo, divertida. 

II Congreso Internacional Comunicacion 3.0

Segue o link para o meu artigo sobre o II Congreso Comunicacion 3.0 no publicado no Nos da Comunicacao 
Discussoes muito interessantes sobre o futuro do jornalismo!

(desculpem a falta de acento e pontuacao. O teclado desse computador eh diferente!)

Universidad de Salamanca

Outro dia mesmo postei sobre o primeiro dia de aula e agora já estou na minha terceira semana na Universidade de Salamanca. Tempo suficiente para observar algumas coisas e fazer alguns comentários:

Campus Unamuno

- Não tem bebedouros na universidade. Se tem, estão bem escondidos. No máximo você encontra máquinas que vendem garrafinhas de água. Se você não estiver a fim de pagar, pode dar um pulinho no banheiro e tomar água da torneira!

- O jornal El Mundo, um dos maiores da Espanha, é distribuído gratuitamente para os alunos. Não sei de quem foi a idéia. Se é a universidade que compra e distribui, ou se é uma estratégia do próprio jornal, o que eu acredito ser mais provável. Os universitários são um público em potencial muito forte. Ao mesmo tempo que precisam ter acesso às notícias, ainda não têm dinheiro para fazer uma assinatura [ou preferem gastar esse dinheiro com festas]. Mas, muito em breve serão profissionais de sucesso [!], que ganham dinheiro, e já estarão habituados a ler aquele veículo!
Independente de quem é o responsável, eu tô adorando poder ler jornal todos os dias!

- A biblioteca daqui é muito movimentada. Bom, eu não posso falar muito sobre a biblioteca da UFJF, porque não frequentava muito. Mas aqui, por incrível que pareça, passo pelo menos umas duas horas do meu dia lá, estudando [isso mesmo! Tem hora que nem eu acredito], e tenho muitos companheiros! Dizem que, na época dos exames, os alunos ficam tão alucinados pelo estudo que as bibliotecas da universidade funcionam 24h por dia! 
Mas o mais interessante da biblioteca é a sinfonia de tosses. É um efeito no estilo do bocejo. Basta um tossir que desencadeia uma sequencia de tosses dos mais variados tipos. Adeus concentração, né?!

- As carteiras aqui não são separadinhas como normalmente são no Brasil. É uma mesa comprida, com vários assentos pregados na mesa comprida da fileira de trás [deu pra entender?]. De modo que, se você está no meio da fileira e é acometido por uma mega vontade de fazer xixi no meio da aula, você tem que pedir pra toooodos os seus coleguinhas se levantarem para que você saia. Nisso a aula já parou e estão todos acompanhando os seus movimentos. Ou seja, não se sente no meio da fileira. Ou segure o xixi!

- Por último, a essência da dinâmica em sala de aula é igual a do Brasil. Às vezes o professor pergunta e ninguém responde. O professor fala sobre coisas que os alunos deveriam saber, mas não sabem, ou fingem que sabem. Tem professor que acaba a aula uma hora antes do previsto. Os alunos podem sair no meio da aula. Alguns professores deixam até comer. De vez em quando rolam aqueles comentariozinhos com o coleguinha do lado [minha coleguinha sueca disse que no país dela isso é inadmissível!].  Mas um detalhe importante, não vi ninguém dormindo na aula, ou deitado na carteira. 

As eleições brasileiras na Espanha

Domingo, dia 3 de outubro. Dia de eleições presidenciais no Brasil. Infelizmente não posso participar e exercer meu dever de cidadã. Eleições presidenciais só acontecem de quatro em quatro anos e calhou da minha viagem ser justamente em ano eleitoral. Só espero que os brasileiros me representem bem ao irem às urnas hoje. 


Mas o assunto aqui não é bem esse. Já que eu não estou no Brasil, acompanho as notícias pela internet. Hoje vou recuperar um pouquinho as raízes do blog e fazer uma comparação da coberturas das eleições feitas pelos dois principais jornais espanhóis: o El País [que eu já falei bastante dele por aqui] e o El Mundo.


El País

El Mundo

Em ambos os jornais, a eleição presidencial brasileira teve destaque na página principal. Um fato inusitado é que o jornal tido como de direita, o El Mundo, dá mais destaque à Dilma que o jornal de esquerdra, El País. A maior parte da matéria do El Mundo fala da candidata de Lula, e também é ela quem está na foto que ilustra a matéria e seu nome está no título. O texto descreve o dia da candidata, fala da possibilidade de vitória no primeiro turno e traz uma declaração de Lula a respeito do processo eleitoral. O resto da matéria se dedica a falar um pouco sobre Marina e Serra, nessa ordem, que também é a ordem de comparecimento dos principais candidatos às urnas. O texto ressalta, ainda, o crescimento de Marina nas pesquisas.


O jornal fez até um cabeçalho especial para as eleições brasileiras e tem uma página que contém, além da matéria citada acima, os perfis dos principais candidatos, com títulos ótimos, diga-se de passagem, e uma matéria crítica, que diz que nenhum desses candidatos apresentou uma proposta formal de governo.


O El País também fala da possibilidade de vitória no primeiro turno e diz que mesmo que haja segundo turno, as pesquisas apontam a vitória de Dilma como certa. E dá destaque ao fato de que ela será a primeira mulher a ser presidente do "colosso brasileiro" e a segunda pessoa que participou de uma guerrilha nos anos 70 e agora chega ao poder democrático (o primeiro foi o presidente do Uruguai, José Mujica).


A matéria do El País é mais completa e explicativa, porque além de falar dos candidatos à presidência, explica que serão eleitos também governadores, deputados e senadora. Fala um pouco do processo eleitoral e das urnas eletrônicas - "La votación se realiza a través de un moderno sistema electrónico". E não poderia terminar sem falar um pouco de Lula, que deixa o governo com 80% de popularidade, segundo o jornal.

Huelga General

Não sei se vocês viram no noticiário, mas hoje os trabalhadores da Espanha estão em "huelga general", ou, em bom português, "greve geral". A paralização já vinha sendo comunicada e convocada há algum tempo. Há cerca de três semanas vários cartazes começavam a ser espalhados em pontos estratégicos da cidade. Com a proximidade, as ações se intensificaram através de panfletagem e anúncio em carros de som.






A mobilização é encabeçada pela União General dos Trabajadores [UGT] e pelo Confederación Sindical de Comisiones Obreras [CCOO], que exigem uma retificação das medidas previstas na "Reforma Laboral", algo como reforma trabalhista. De acordo com os organizadores, a política do executivo só atrasa a recuperação econômica da Espanha e condena o país ao aumento do desemprego, causado pela facilidade que os empregadores vão ter para demitir seus funcionários quando a reforma for colocada em prática.


A greve é geral, mas nem todos aderiram. No comércio, pelo que eu pude ver aqui em Salamanca, assim como no resto do país, a maioria das lojas estavam abertas, já que esta foi uma das áreas menos afetadas. O setor da educação também parece que funcionou bem. Meus professores não aderiram à greve. Tive todas as aulas do dia. Um deles chegou a comentar que concorda com os motivos, mas não com a metodologia e os impactos que ela pode causar na economia [que já não vai muito bem].


Já na prestação de serviços, principalmente no setor de transporte, não foi assim. A greve interferiu e muito na vida das pessoas. Um bom exemplo é meu caso [e de mais três amigos]. Estavamos com uma viagem programada para Munich, na Alemanha. Iríamos ao Oktoberfest [sim! o original]. Escolhemos justamente o dia 29 para a viagem [porque era o dia com passagens mais baratas]. Nem nos lembramos da greve. Mas depois que ficamos sabendo dela, também não pensamos que pudesse interferir na nossa viagem, já que se tratava de um vôo internacional. Pelo menos não até ontem à noite, quando recebemos um e-mail da companhia aérea dizendo o seguinte: "Unfortunately due to the failure of the Spanish Government to protect non Spanish airline's flights with minimum service guarantees, Ryanair have been forced to cancel all domestic flights in Spain on 29th Sep and most International flights to/from Spain on 29th Sep.". O Governo Espanhol não se comprometeu a proteger os vôos de companhias aéras não espanholas com o mínimo de garantias de serviços. Por isso, a Ryanais foi forçada a cancelar todos os vôos domésticos e alguns internacionais [inclusive o meu!] do dia 29 de setembro. Além do vôo, também senti os efeitos da greve quando fui à rodoviária trocar uma passagem [a de ida pra Madri, para pegar o vôo pra Alemanha...] e a única companhia que estava funcionando era a que eu ia viajar através dela [por sorte!].


De acordo com os meios de comunicação, os sindicatos afirmam que houve uma adesão de 70% dos trabalhadores. Grupos de grevistas organizaram manifestações por todo o dia no país, inclusive nas Ilhas Canárias. Em Salamanca, cerca de 200 pessoas se aglomeraram na Plaza Mayor, pela manhã, e seguiram com a manifestação pelas principais ruas da cidade. Madri e Barcelona sediaram os maiores protestos. No rádio e na TV, os plantões sobre a greve eram quase sequenciais.


Agora ao fim do dia, os jornais destacam a fala do Ministro do Trabalho, segundo a qual a greve teve um efeito moderado e a partir de amanhã haverá muito trabalho para fazer.


A cobertura completa da greve você pode conferir no site dos dois principais jornais da Espanha, o El País e o El Mundo.

Carlos, ni olvido, ni perdón

Salamanca, mesmo sendo uma cidade muito bonita, limpa e localizada na Espanha, um país tido como desenvolvido, tem vários muros tomados por pichações. Inclusive no centro histórico. Algumas delas, a meu ver, só servem para sujar a cidade, porque ninguém entende o que está escrito, a não ser quem escreveu. Como nesse caso aí:



Outras são chamadas de "stencil". A maioria deles tem conteúdo de protesto. Um deles chamou a minha atenção. Onde quer que você vá em Salamanca, há um stencil assim:


"Carlos, ni olvido, ni perdón", algo como "Carlos, nem esquecimento, nem perdão". Ficava imaginando o que esse Carlos tinha feito de tão errado para que toda a cidade ficasse infestada dessas mensagens. Cheguei a achar que ele era o protagonista de uma lenda urbana que uma das meninas que veio do Brasil disse existir em Salamanca: um estuprador que estava desaparecido há algum tempo. 

Um dia, resolvi consultar aquele que tudo sabe, o oráculo da vida: Google! Digitei lá: "Carlos, ni olvido, ni perdón". E tive uma surpresa! O Carlos na verdade não é culpado. É vítima. Ele era um adolescente anti-fascista, que foi assassinado no metrô de Madri, no dia 11 de novembro de 2007. O autor do crime, Josué Estebanez de la Hija, na época era soldado do Exército.

Segundo as informações da internet, o militar entrou no metrô com destino à Praça de Julián Marias, onde ele participaria de uma manifestação contra a imigração, convocada pelo Democracia Nacional (DN), um partido político espanhol de extrema direita [obs: um partido que tem democracia no nome organiza um ato desse tipo?]. Durante a viagem, um grupo antifascista entra no vagão. Eles também seguiriam para a Praça de Julián Marias, com o objetivo de protestar contra a manifestação do DN.

Relatos contam que Josué retira de um de seus bolsos uma navalha, que mantem na mão escondida. Carlos Javier Palomino  entra no vagão e critica o emblema da camisa do soldado: "Three Strokes" ("Três Golpes") - uma marca do grupo fascista "Los Ultras". Josué Estébanez responde dando-lhe uma facada ao coração. 


Segue um vídeo com uma série de reportagens sobre o assunto. Ele é bem longo, mas vale a pena dar uma olhada, pelo menos no início.

Desde então, uma série de manifestações são realizadas frequentemente, por toda a Espanha, para lembrar da história de Carlos. O fato está marcado em diversas muros e paredes de todo o país. O governo de Franco, ditador fascista espanhol, acabou há cerca de 40 anos. Mas, pelo que os fatos indicam, a semente ainda está viva.


Volta às aulas, que alegria!

Enquanto meus coleguinhas no Brasil estão terminando mais um "mergulhão" (apelido dado às disciplinas práticas do final do curso), eu, em pleno dia 20 de setembro, voltei às aulas. Mais ansiosa que a caloura, vinda de Governador Valadares, no seu primeiro dia de aula na UFJF. Muuuuito mais. Por uma série de fatores:

1) Os professores não falam português. Lógico! E eu já vim pra cá sabendo disso, né?! Mas vai que eles falam rápido e usam um linguajar que eu não domino?

2) E se na sala só tivessem espanhóis que já se conhecessem e fossem "best friends forever" e eu ficasse excluída num canto, já que eles não são muito receptivos?

3) O meu espanhol nem é tão bom assim. Pelo menos eu achava isso [até conhecer os meus coleguinhas de sala]. E se tivessem mil trabalhos pra apresentar lá na frente falando em espanhol [lógico!] com todos os meus coleguinhas "best friends forever" olhando?

Bom, mas a melhor maneira de saber se as minas expectativas iam se cumprir era ir à aula. Cheguei bem cedo. Mineira, né?! Não perde o trem. Fiquei com medo de não achar a sala e ficar perdida na universidade. Bem caloura mesmo. Achei a sala fácil. Mas ainda não tinha ninguém lá. Então fui passear. Quando voltei, tinha uma menina. Pensei em perguntar se aula de "Sistemas Políticos de Europa" era ali. Mas antes que eu abrisse a boca ela veio falar comigo. A primeira coisa que ela perguntou era se eu falava inglês!!! Eu ri e disse que sim. A partir daí começamos a conversar. Em inglês. Então chegou uma loira, alta, do olho azul, sentou do nosso lado e ficou olhando. Não demorou ela entrou na conversa também. A primeira se chama Veronika e é tcheca [é inevitável não lembrar daquela canção antológica do grupo É o Tchan: "pega tcheca, solta a tcheca, leva a tcheca pra sambar, ô lá lá"]. A loira bonitona é sueca, a Linnea [pra entender que era assim o nome dela demoramos uns 10 minutos]. Não demorou chegou mais uma. Alemã. Mas do nome fácil: Maria. A partir daí nos tornamos "best friends forever"! Descobrimos que compartilhávamos dos mesmos medos. E eu descobri que o meu espanhol é "fueda"!
Cara, nego é muito doido! Vem pra cá estudar e só sabe falar "Hola! Que tal?" em espanhol. É aquela história: olha pra baixo, tem alguém te dando tchau! As meninas não entendiam nada que o professor falava. Eu tinha que fazer uma tradução simultânea. No fim do dia meu cérebro tava dando tilte. Já estava pensando em inglês e misturava português, inglês e espanhol na mesma frase.
O bom é que a sala é quase uma convenção da ONU! Gente de todo lugar do mundo. Alemanha, França, Itália, Holanda e mais um monte de lugar que eu não lembro. E três latinos: eu, um porto-riquenho [é assim que escreve?] e uma colombiana. Com esse tanto de estrangeiro o professor se mostrou mais flexível. Ainda bem.
Agora é esperar pra ver como vão ser as outras aulas. Acho que não deve ter tanto estrangeiro como nessa. Mas pelo menos a primeira aula da semana eu já sei que vai ser legal!

Quanto custa?

Aproveitando que hoje é sábado, dia oficial de programas de gincana na TV, vamos recordar um desses quadros que o Silvio Santos adora! Sabe aquele que o Silvio mostra os produtos e o participante tem que adivinhar o preço de cada coisa? Pois é. É disso que vamos brincar.
Hoje fui ao supermercado e comprei isso tudo aí ó:



Um pacote de arroz, um pacote de macarrão, uma bandeja de carne moída, margarina, pão de forma, uma caixa de leite (que aqui tá mais pra "água de leite"), uma lata de molho de tomate e alguns artigos de "luxo" (coisas que eu nunca compraria no Brasil, a não ser que eu estivesse com a minha mãe, ou pagasse no cartão dela): um potão de geléia de morango, um potinho de cream cheese, uma caixa de suco de pêssego e um pacote de croissant de chocolate.
Agora chuta quanto custou isso tudo?
Teeeeeeeeeeeeempo!
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Acertou quem respondeu 10 euros. Ou melhor, 10 euros e 13 centavos (aqui eles fazem questão dos centavos). 
Isso mesmo. Dez euros. Ou seja, uns 23 reais. 
No Brasil? Vixi! Acho que nem com 50 reais eu pagaria, né?! Pra vocês verem como a carga tributária do nosso país encarece bastante as coisas e afeta diretamente o nosso bolso.

[Pode até parecer que eu tô puxando sardinha pra Espanha. Mas é que em alguns aspectos eles estão bem a nossa frente. Tudo bem, uma série de fatores históricos fizeram com que o Brasil fosse o que é hoje. E a própria Espanha contribuiu pra isso. Mas, como em todo lugar, aqui também tem seus defeitos. Daqui a pouco eu falo deles. E, de qualquer maneira, eu amo o Brasil! Um dia a gente chega lá. Ou aqui.] 



Aceita um copo de água da torneira?

*Atenção, crianças, não façam isso em casa!

"Aceita um copo de água da torneira?". É assim que recebemos visitas aqui em casa. Isso mesmo, se algum dia você vier à minha casa, aqui em Salamanca, o que eu vou te oferecer é um copo de água da torneira. Qualquer pessoa, de amigos a inimigos. E de maneira alguma minha intenção é que o visitante tenha uma dor de barriga ou  se encha de vermes. É que aqui a água da torneira é potável.


Você deve estar pensando "Ahh... Mas mesmo assim eu não teria coragem de beber". Realmente, beber água da torneira não é a coisa mais normal pra mim. Bom, mas eu aderi à prática. Até porque não dava pra passar seis meses comprando água, sendo que é só abrir a torneira e voilà, habemus água potável! [fiz uma mistureba de idiomas, né?! É mais ou menos assim que tá o meu cérebro. Cada palavra da frase sai numa língua]. Ainda mais depois que a Maria Jesus [leia-se "Resus"], dona do apartamento que moramos, fez uma linda demonstração, abrindo a torneira, enchendo o copo e bebendo tudo numa única golada. Só pra gente acreditar que podia beber mesmo.

Olha que prático! Imagina você acordando com aquela ressaca. Você vai tomar um banho gelado, e aproveita pra beber uma água geladinha. Só abrir a boca em direção ao chuveiro.

[mais um costume que eu não posso levar quando voltar pro Brasil. Em uma semana vou ter uma quantidade de vermes tão variada quanto a fauna brasileira]

Ferias y Fiestas

De 7 a 15 de setembro Salamanca esteve em festa (ainda está, né?! Faltam algumas horas pra terminar). O que eles chamam de Ferias y Fiestas. O motivo? O aniversário da cidade, que é comemorado no dia 8 de setembro. Como os espanhóis são um povo bem animado, as festividades duram nove dias! Na verdade, parece que as festas de férias são uma tradição aqui na Espanha, já que vários povoados que nós visitamos, quando fomos à Sierra de Francia, também estavam em festa. Acho até que a Élida (professora que nos levou para conhecer a serra) comentou algo a respeito.

Pra ilustrar melhor como funciona, posso dizer que é tipo uma festa junina, com bandeirolas, barraquinhas, música e comidas típicas. Aqui eles chamam as barraquinhas de "casetas". Nelas são vendidas iguarías típicas da Espanha, os chamados "pinchos", que normalmente são combinadas com uma bebida. Tudo isso por uma módica quantia que varia de 1,80 a 2,40 euros.



Cada bararquinha é especializada em um tipo de "pincho". Eu experimentei uns cinco diferentes. Pena não ter tirado fotos. Um de jamon, que é pernil de porco preparado de uma maneira especial (um dia escreverei só sobre o jamom) à carbonara, muito bom. Um de chorizo. Não! Não é chouriço. É de porco também. Mas é tipo uma linguiça, com um gosto muito forte, mas bom também. Um de patatas bravas. Que são batatas fritas cortada em cubinhos com um molho parecido com molho rosé, só que apimentado, que era uma delícia. E os mais interessantes e que eu não lembro o nome. Um deles era um bifinho de carne, temperada com cury e mais um monte de coisa que eu não entendi o que era (a gente sempre perguntava do que era feito antes de pedir, porque pelo nome nem sempre dava pra adivinhar), numa fatia de pão com molho de tomate. Segundo o moço que nos atendeu, é uma comida típica do Marrocos (a Espanha tem uma ligação muito forte com o Marrocos. Mas sobre isso eu falo uma outra hora também). O outro foi o mais estranho. Era tipo esse do Marrocos: um pão com uma carne. Só que o molho era doce. E a carne era de cabeça de porco! Isso mesmo, amiguinhos! A gente come o pé e as orelhas na feijoada. Por que eles não podem comer a cabeça?

Agora falando um pouco sobre as bebidas de acompanhamento. Era possível escolher entre água, refrigerante, vinho, sangria, "ceveza", "caña" e "calara". Não me pergunte a diferença de "ceveza" pra "caña", porque pra mim é a mesma coisa. Um dia ainda peço pra alguém me explicar. Já a clara é "ceveza" (ou "canã". Já disse que não sei diferenciar...) com água gasosa (eca!). Não experimentei. Mas não deve ser muito bom...

A cidade fica cheia de "casetas". A cada esquina que você dobra, encontra um grupinho de barraquinhas. E elas abrem mais ou menos na hora da almoço. Aí a galera dá uma passadinha antes de ir pra casa almoçar, pra comer um aperitivo. Fecha pra siesta. Lógico. Tudo fecha pra siesta. E reabre no final da tarde, até a meia noite.

Tem gente de todas as idades. Lógico que algumas "casetas" são mais frequentadas por pessoas de mais idade, como as "casetas" regionais, nas quais cada barraca representa uma região da Espanha e têm apresentações de danças e músicas típicas. As vovós adoram! Outras têm mais jovens e tocam músicas mais atuais.

Bom, além das "casetas", a programação incluiu vários shows (até de artistas famosos na Espanha) na Plaza Mayor e no Pátio de Escuelas. Apresentações de dança, campeonatos esportivos, peças teatrais, o Festival Internacional de Artes de Rua, com espetáculos lindíssimos, lógico, no meio da rua e uma queima de fogos de meia hora no dia do aniversário da cidade. Tudo isso de graça!





O bom é que como as aulas não começaram ainda, deu pra aproveitar bastante. E eu bem acho que eles falaram que as aulas iam começar dia 6 só pra gente chegar antes e movimentar a festa. Além de gastar dinheiro nas "casetas", claro!

Pode dar bala de troco?

Já parou pra pensar quantas vezes você recebeu uma moeda de um centavo de troco? Quase nenhuma, né?! Pra mim pelo menos, receber uma moeda de um centavo é quase como sair uma nota de cem no caixa eletrônico. Muito raro.

Já perdi a conta de quantos centavos foram deixados pra trás a cada compra feita no Bahamas. Por fim, preferia pagar no cartão de débito, pra que o valor correto fosse descontado da minha conta. Porque, como já dizia propaganda do Visa, "bala de troco, que coisa triste". As lojas de "1,99" então, lucraram muito às custas dos um centavos deixados pra trás.

Por aqui eles prezam pelo troco certinho. Nunca andei com tantas moedas na vida! Se a coisa que você comprou é 1,98 e você paga com dois euros, você tem os seus dois centavos de troco. Nada de bala ou chiclete. É uma moedada danada. Ainda mais que aqui eles têm moeda de 2 euros. Você dá uma nota de dez pra pagar uma coisa que custa 1,80 e recebe o troco todo em moeda. A primeira vez foi estranho. Achei que o troco estava errado. "Esse tanto de moeda não dá o valor do troco". Até conferi.



É meus amigos, são tantos costumes que nós não estamos habituados. Sabemos o que é o certo a se fazer, mas fazemos de outro jeito. Coisas simples, mas que no dia a dia fazem a diferença. Como por exemplo,  receber o troco certo a cada compra e ter váááárias moedas de um centavo na carteira. Não dizem que é de grão em grão que a galinha enche o papo?