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No cabeleireiro


Um dia ela acordou e decidiu que o cabelo estava ruim. Na verdade já vinha ruim há uma semana ou mais. Cansada de "bad hair day" que evolui para "bad hair week" e assim sucessivamente, ela resolveu que estava na hora de acabar com essa palhaçada e cortar o mal pela raiz. Ou melhor, pelas pontinhas.

Saiu de casa um pouco mais cedo do que o horário normal e antes de ir trabalhar passou no salão de beleza mais próximo de casa. Porque com ela não tem dessas coisas de cabeleireiro de confiança.  O negócio é praticidade, resolver o problema o mais rápido possível. Afinal de contas, cabelo cresce. E se ficar ruim, prende. Ou coloca um arco, faixa, grampo, lenço... Se de tudo ainda não estiver bom, dá uma caprichada no creme pra pentear, uma amassada nas pontas e vida que segue, como se estivesse super à vontade com aquele cabelo desgrenhado.

Obviamente, devido à sua natureza pragmática, ela não marcou horário. É sempre assim. Ela resolve de uma hora pra outra que precisa cortar o cabelo impreterivelmente o mais rápido possível. Não dá pra ligar, ver a agenda, marcar horário. Perda de tempo.

“Bom dia! Quero cortar cabelo. Tem algum profissional disponível?”

A recepcionista normalmente assusta, já que cortar cabelo é uma coisa premeditada. Ninguém acorda e de repente tem vontade de cortar o cabelo. Normalmente as mulheres pensam, refletem, hesitam e marcam horário. Mas com ela é diferente. Ela resolve na hora mesmo.

Por sorte uma dessas mulheres que tinha premeditado e marcado horário não apareceu naquela manhã. Deve ter se arrependido e não foi (esse negócio de marcar tem dessas coisas: dá tempo de se arrepender e desmarcar ou não ir). Como ela não tinha preferência de profissional, podia ser aquele mesmo que estava com o horário vago. 

O profissional, então, a encaminhou para cadeira. Ela se sentou e soltou o cabelo (a coisa estava tão feia que ela tinha saído de casa de coque). Ele perguntou se ela usava secador, chapinha ou era adepta de qualquer outra prática de ajeitamento capilar. Ela disse que não, que nem secador tinha. Ele logo concluiu que ela queria algo prático.

Então foram para o lavatório. Já de volta à cadeira da transformação o cabeleireiro foi fazendo seu trabalho. Acerta aqui, apara ali, repica a frente. Voila! Pronto! A liberdade de um cabelo novo.

Ao final o cabeleireiro dá uma ajeitada e pergunta com o que ela prefere pentear o cabelo: pente, escova...? Ela, já se levantando da cadeira, diz: “Com nada, não. Assim está ótimo!”. Há 8 anos, depois que sua escova de cabelo sumiu na republica onde morava com outras 12 meninas, nunca mais penteou o cabelo. E era feliz assim, sem secador e sem pente na sua rotina.






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