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Celular



Comprou um celular. Desses maneiros. Touch screen e tudo mais. Só para estar na moda mesmo. Porque não entendia nada de tecnologia. O seu antigo era daqueles de lanterninha. Para o rapaz, celular servia só para fazer e receber ligações. No máximo usava o despertador, a calculadora [para dividir a conta do bar] e, é claro, a bendita lanterninha, salvadora nos momentos de escuridão.
Juntou a grana por uns dois meses. Mas só deu pra entrada. Teve que parcelar em cinco vezes, para caber no seu orçamento. 
Uma sexta-feira, no final da tarde, recebeu uma ligação. Atendeu de pronto, já que o celular estava em suas mãos [ele estava fuçando, para variar um pouco]. Era um amigo chamando para uma festinha logo mais a noite.
O amigo passou para pega-lo. Na hora de sair, ficou na dúvida se levava o telefone ou não. Afinal de contas era novinho, caro, e ainda faltavam algumas prestações para acabar de pagar. E sabe como são essas festas, né? Como certeza ele ia ficar bêbado. Para perder o celular seria um pulo. Mas levou. Porque sempre que deixava em casa, acabava precisando.
Foi no carro fazendo orações para São Longuinho e se perguntando porque não tinha arrumado uma correntinha para prender o celular na calça.
Na festa, muitas biritas depois, resolveu ir ao banheiro. Mas o local era muito grande. E como estava bêbado, acabou se perdendo no meio do caminho. Já que estava perdido mesmo, resolveu tomar mais uma dose de vodka e sentar no sofazinho pra admirar as beldades que passavam [só admirar mesmo,porque naquele estado alcoolico, nenhuma ia querer ficar com ele].
A essa altura, o amigo já estava louco procurando pelo rapaz. 
O dia já tinha amanhecido quando o amigo o encontrou jogado naquele mesmo sofazinho da dose de vodka. Apagado. Para acordar foi um custo. Só um copo de água na cara do sujeito resolveu.
De pé, prestes a ir embora, o bebum lembrou: cadê meu celular?
Pronto! Começou o desespero. Procura daqui, procura dali. Embaixo do sofá. No bar. Perguntaram pra faxineira que já varria o chão. Ligaram pro número. Chamava, chamava, e nada. Pelo menos chamava. Se alguém tivesse pegado, teria desligado na hora. Até que parou de chamar. A bateria deve ter acabado. Ou a pessoa que pegou desligou, para não ser mais incomodada. Pediram para os seguranças devolverem, caso achassem, e deixaram o endereço. Chamaram a polícia e fizeram ocorrência. Procuraram até no lixo do banheiro. Uma faxineira disse que tinha visto um celular num dos canteiros do salão. Foram correndo procurar. Realmente tinha um celular. Mas não era o dele. Ficou se perguntando por que não aceitou o seguro que o cara da loja ofereceu. 
Por fim, já sem esperanças, inconformado com o prejuízo, desistiu. Resolveu ir embora. Chamou amigo, que já não aguentava mais aquele circo todo por causa de um celular, e foram em direção ao carro. 
Quando ele entrou no carro, sentiu que pisou em alguma coisa. Quando viu, não acreditou. Lá estava, caído no chão, o celular. Uma lágrima de emoção e alívio escorreu do seu olho. Pensou: nunca mais compro celular caro na vida.



1 comentários:

Naissa Viana disse...

Adoro suas crônicas!
São sempre bem escritas e humoradas.
Não sabia que já tinha seguro para celular hehe