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Terremoto no Chile

Principal manchete do site de todos os três jornais internacionais analisados


The New York Times
El País
Le Monde


hoje a coluna fala sobre o terremoto de magnitude 8,8 que atingiu o Chile na madrugada deste sábado.


Uma olhada superficial e já é possível perceber a inversão de papéis que ocorreu na divulgação deste fato.
Eu explico. Há algum tempo venho observando a estrutura das noticias nos veículos analisados. Normalmente o NYT traz as matérias mais longas e com mais fontes. O Le Monde faz uma análise aprofundada do assunto, uma reportagem. E o El País noticia os fatos superficialmente.


Mas, no caso do terremoto no Chlie, tudo mudou. O Le Monde trouxe a matéria mais fraca de todas. Disponibilizou alguns dados numéricos. Colocou uma imagem da Administração Nacional Atmosférica Oceânica parecida com essas que a gente vê em atlas, cheia de curvas e com pontinhos indicando os focos do abalo. Mas que não gera identificação nenhuma com o público, já que não se trata de uma foto mostrando os estragos causados pelo terremoto. Deu destaque para o alerta de tsunami que pode atingir o Japão. Colocou alguns links interessantes, mas que estão escondidinhos bem no cantinho da matéria. Poderiam ter mais destaque, ou entrar juntamente com o texto. Um vídeo de uma TV chilena, um infográfico, um mapa mostrando o epicentro, e, aí sim, um slide show de fotos.


O NYT não ficou muito atrás. A diferença é que trouxe mais informações no corpo da matéria. Mas poderia ter utilizado outros recursos multimídia. Também disponibizou alguns links: notícias sobre o terremoto no Haiti e notícias sobre o Chile. Colocou um mapa, identificando a localização do tremor, e três fotos, sendo uma delas da presidente do Chile, Michelle Bachelet (?!). Descreveu a situação no país e usou a TV chilena como fonte. Comparou o fato com o ocorrido no Haiti, enfatizando que no Chile o abalo foi mil vezes mais poderoso, segundo dados da CNN. Colocou falas da presidente chilena e falou sobre as medidas adotadas pelo governo. No último parágrafo, um pequeno histórico de terremotos em território chileno. Mas o que mais me chamou atenção foram duas coisas: 1- a matéria foi escrita no Rio de Janeiro (?!) 2- eles usaram o Facebook e o Twitter como fonte, para afirmar que o tremor foi sentido do Japão até a Argentina (as redes sociais vão dominar o mundo!).


Já o El País, contrariando todas as expectativas, trouxe a matéria mais completa, com muitos links e informações. Abusou de todos os recursos multimídia disponíveis: mapa e infográfico, slide show de fotos, áudio de testemunhas do tremor, telefones de emergência, tudo no corpo da matéria. Descreveu a situação no país. Citou a presidente Michelle Bachelet. Fez uma retranca com histórico da atividade sísmica da região. Box sobre a evacuação da Ilha de Páscua. Usou o testemunho de García de la Concha, presidente da Real Academia de la Lengua, que estava em Santiago no momento do terremoto (depoimento que também está disponível em áudio). Aproveitou para falar sobre o V Congresso de la Lengua Espanhola, que começa na próxima terça-feira (com link para matéria sobre o assunto). Além de link para imagens da TV chilena, para depoimentos disponíveis no site de uma rádio espanhola e para uma matéria que dá mais detalhes sobre as buscas a um grupo de estudantes espanhóis que fazia intercâmbio no Chile. E mais uma vez as redes sociais atacam com um link para conselhos da Cruz Vermelha no Twitter e link de busca, também no Twitter, para as tags #Concepcion e #Chile.


Coberturas completamente diferentes para um mesmo assunto. Tudo bem, a Espanha pode ser um país com relações mais estreitas com o Chile, até pelo histórico de colonização. Mas com tantas possibilidades e tantas fontes de informação multimídia que podem gerar interesse do leitor, ainda mais para um fato que pede o uso de outros recursos ilustrativos, que não somente o texto, acho que grandes jornais, como o NYT e o Le Monde poderiam ter feito uma cobertura melhor. Principalmente se levarmos em conta que as matérias eram manchete principal no site dos dois jornais. E sem a desculpa do fato ter ocorrido a poucas horas. Se o El País conseguiu, por que eles também não conseguiriam?

1 comentários:

Flaviane Paiva disse...

Que isso! Sensacional seu post! Sem palavras mesmo. Continue assim. Essa ideia de analisar coberturas internacionais é muito boa!

Parabéns!