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Pra lá de Marrakech

Antagonismos. Disso é feito o Marrocos.
Lá eu vivi do completo caos-barulho-bagunça-desordem à completa tranquilidade-paz-silencio.
Mas vamos começar pelo começo. O sol! Ahhh o sol! Há mais de três meses eu não via o sol direito. Vocês não sabem o que é isso pra uma pessoa que nasceu em Governador Valadares. E quando ele aparecia e se juntava com o céu azul era só pra enganar bobo. O frio continuava o mesmo. Ou até pior. 
Aí eu chego no Marrocos e tá calor! Não o calor valadarense, lógico. Mas quente o suficiente pra ficar só de camiseta! Uma emoção. Depois de três meses me encapotando pra ir ali na esquina, poder tirar o casaco foi um momento memorável.
Mas vamos aos perrengues [que não podiam faltar]. Já começou no aeroporto. Fomos [eu e Mylena] passar pelo controle de passaporte, aí tinha que entregar uma fichinha que eles dão no avião. Um dos campos a serem preenchidos era o endereço do lugar que eu ia ficar no Marrocos. E quem disse que eu sabia? Deixei em branco. Quando eu fui pra Rússia aconteceu o mesmo e não deu problema...
Mas no Marrocos é diferente. A moça perguntou e eu disse que não sabia. Aí ela disse que eu não poderia entrar no país. What the fuck! Como assim, tia? E se eu tivesse ido sem reservar lugar pra ficar e fosse procurar lá?
Bom, o jeito era esperar nossos 12 companheiros de aventura [isso mesmo. DOZE] que estavam vindo de Portugal e iriam encontrar com a gente no aeroporto [daí a duas horas!]. Eles sim tinham o endereço. Não sem antes me culpar pela minha idiotice de ir pra um lugar com hostel reservado e não me dar ao trabalho nem de anotar o nome do lugar. E se o pessoal de Portugal não chegasse? Como a gente ia fazer? Ficar no aeroporto até dar o dia de ir embora? De uma maneira ou de outra, o jeito era esperar [pra variar um pouco]. Nesse meio tempo, um moço, vendo que a gente tava ali à vontade nas cadeirinhas, já tinha rancado os casacos e tava batendo um papo 10, foi perguntar o que a gente tava fazendo ali. A gente explicou e ele pediu pra acompanhar ele. Chamou a moça que não deixou a gente entrar, falou alguma coisa com ela. Ela pegou nosso passaoporte [com cara de cu], carimbou e nós entramos! Aí sim podiamos comemorar. "A GENTE TÁ NA ÁFRICA!"
Ao sair na rua já percebi que tinha cometido um erro. Lembra num post anterior que eu disse que o trânsito de Amsterdam era caótico? Esquece. Caos mesmo é o trânsito do Marrocos. Pior, acho que só o da Índia. Mas só por causa dos elefantes, que são um componente de peso. 
Assistam a esse vídeo pra vocês entenderem um pouco do que eu tô falando [desconsiderem as marmotas - ou considerem também...]:


Crédito para o colega Thiago Venâncio!


Muito bem explicado, né?! Não preciso entrar em mais detalhes.
Vamos então ao próximo passo: encontrar o hostel. As ruas simplesmente não têm placa, não têm nome. Não tem como saber onde você está sem perguntar. É tão confuso que acho que nem GPS funciona lá. Rodamos um tempo na tentativa vã de encontrar o lugar, mas teve jeito não. A única alternativa era nos deixar levar pelos marroquinos que vendo nossa cara de gringo perdido, vinham perguntar se precisávamos de ajuda. Fomos seguindo um desses caras. Num ponto do trajeto eu já não fazia a mínima idéia de onde eu tava [se é que em algum momento eu soube]. Aí sempre tem um mais desesperado que eu, né?! "Gente, e se esse cara tá levando a gente pro lugar errado? Olha esse caminho que esquisito. Vão roubar a gente!". Mas eu num fiquei muito preocupada não. Roubar 14 pessoas de uma vezada deve ser um tanto quanto arriscado, né?!
Chegamos. Quando a gente entrou no lugar, minha boca abriu! E só foi fechar um tempo depois. Sabe o cenário do Clone? Pois é. Eu tava lá. Já tava esperando a Jade sair detrás de uma daquelas cortinas e escutando "Somente por amooooor..."
Tá aí uma fotinha pra vocês darem um confere.


Só sei que pairou aquela dúvida, né?! É o lugar certo? Mesmo que não fosse eu queria ficar ali. Aquilo desconstruiu completamente o meu conceito de hostel. Aquilo não era um hostel. Era um cenário de novela da Globo, gente!
Como vocês viram no vídeo, também fizemos um passeio no deserto. Passamos a noite lá. De longe a coisa mais doida que eu já fiz na vida. Pegamos um ônibus [Socorram-me subi num ônibus em Marrocos!]. Viajamos sei lá quantas horas. Subimos no alto das montanhas com pico coberto de gelo. Acompanhamos a mudança de paisagem de acordo com a altitude. Uns lugares mais lindos que só vendo. Foto nenhuma consegue expressar. Uma paz...






Saímos de manhã e chegamos no lugar de troca de meio de transporte no finalzinho da tarde. Disse troca de meio de transporte porque descemos do ônibus e pegamos camelos! Um pra cada um. Duas horas no lombo do camelo [que depois descobrimos não era camelo nada, era dromedário] depois chegamos no acampamento. Não sem antes pensar de novo: "Será que esses caras tão levando a gente pro lugar certo?". Imagina: um bando de gringo, montado em camelo [ok, dromedário], numa completa escuridão, no deserto do Saara, sem saber nem pra que lado tem que correr se acontecer alguma coisa? Mas já tava lá mesmo. Se morrer, amanhã faz dois dias.
Além do mais, o céu do deserto à noite é a coisa mais linda que eu já vi na vida! Pensa em muita estrela. Mas muita mesmo. Muitíssimas! Podia me levar pra qualquer lugar debaixo daquele céu que eu tava feliz.
No final deu tudo certo. Jantamos comida típica. A galera ficou de piriri. Normal. No dia seguinte acordamos bem cedo pra ver o sol nascer por detrás das dunas. Depois fizemos o trajeto de volta...
No final, fiquei com aquela sensação de querer conhecer coisas diferentes. Porque por mais que a Europa seja bonita, é tudo mais ou menos igual, até mesmo na Rússia. O padrão é mais ou menos o mesmo. No Marrocos não tem mão e contra mão, calçada ou qualquer regra de trânsito. As construções são TODAS num tom amarronzado, cor de lama e algumas de fato são feitas de lama. As mulheres andam com as cabeças cobertas. E quanto dá a hora de rezar, os auto-falantes começam a berrar e todo mundo corre pras mesquitas, tipo quando toca o sinal do recreio. Outro mundo.
Tô pensando seriamente em fazer a minha próxima parada na Índia. Alguém me acompanha?

[eu sei que os posts tão cada dia maiores e esse superou todos os limites. mas o Marrocos merece. e como diria o gordinho dono da bola: o blog é meu, eu escrevo o tanto que eu achar necessário. vou guardar minha objetividade pra quando estiver escrevendo notícias.
se você chegou até aqui, muito obrigada!]

1 comentários:

Thiago Venâncio disse...

Marrakech é o caos mais bonito!
Foi um prazer viajar com a colega Tainá!
Beijos