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Carlos, ni olvido, ni perdón

Salamanca, mesmo sendo uma cidade muito bonita, limpa e localizada na Espanha, um país tido como desenvolvido, tem vários muros tomados por pichações. Inclusive no centro histórico. Algumas delas, a meu ver, só servem para sujar a cidade, porque ninguém entende o que está escrito, a não ser quem escreveu. Como nesse caso aí:



Outras são chamadas de "stencil". A maioria deles tem conteúdo de protesto. Um deles chamou a minha atenção. Onde quer que você vá em Salamanca, há um stencil assim:


"Carlos, ni olvido, ni perdón", algo como "Carlos, nem esquecimento, nem perdão". Ficava imaginando o que esse Carlos tinha feito de tão errado para que toda a cidade ficasse infestada dessas mensagens. Cheguei a achar que ele era o protagonista de uma lenda urbana que uma das meninas que veio do Brasil disse existir em Salamanca: um estuprador que estava desaparecido há algum tempo. 

Um dia, resolvi consultar aquele que tudo sabe, o oráculo da vida: Google! Digitei lá: "Carlos, ni olvido, ni perdón". E tive uma surpresa! O Carlos na verdade não é culpado. É vítima. Ele era um adolescente anti-fascista, que foi assassinado no metrô de Madri, no dia 11 de novembro de 2007. O autor do crime, Josué Estebanez de la Hija, na época era soldado do Exército.

Segundo as informações da internet, o militar entrou no metrô com destino à Praça de Julián Marias, onde ele participaria de uma manifestação contra a imigração, convocada pelo Democracia Nacional (DN), um partido político espanhol de extrema direita [obs: um partido que tem democracia no nome organiza um ato desse tipo?]. Durante a viagem, um grupo antifascista entra no vagão. Eles também seguiriam para a Praça de Julián Marias, com o objetivo de protestar contra a manifestação do DN.

Relatos contam que Josué retira de um de seus bolsos uma navalha, que mantem na mão escondida. Carlos Javier Palomino  entra no vagão e critica o emblema da camisa do soldado: "Three Strokes" ("Três Golpes") - uma marca do grupo fascista "Los Ultras". Josué Estébanez responde dando-lhe uma facada ao coração. 


Segue um vídeo com uma série de reportagens sobre o assunto. Ele é bem longo, mas vale a pena dar uma olhada, pelo menos no início.

Desde então, uma série de manifestações são realizadas frequentemente, por toda a Espanha, para lembrar da história de Carlos. O fato está marcado em diversas muros e paredes de todo o país. O governo de Franco, ditador fascista espanhol, acabou há cerca de 40 anos. Mas, pelo que os fatos indicam, a semente ainda está viva.


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