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And the winner is...


Hoje é Dia da Mulher. Ontem foi dia de Oscar. E, no Oscar, quem ganhou o prêmio de melhor direção foi, pela primeira vez, uma mulher! Curiosamente, desbancando seu ex-marido e concorrente. Bela maneira de começar o Dia da Mulher, não? Com direito a surpresa no final: o filme do marido, considerado favorito, perdeu para o dela na categoria Melhor Filme. E, indo contra o mito de que mulher é "gastadeira", o grande ganhador da noite teve um orçamento de 11 milhões de dólares. Um trocado, perto dos 500 milhões gastos pelo ex-marido. 


É, minha gente, estou falando de "Avatar", de James Cameron, e "Guerra ao Terror", de Kathryn Bigelow. 


Normalmente na coluna de crítica eu faço análise de assuntos mais relacionados a política. Mas, devido a todos os fatos listados acima, vou abrir uma exceção e falar do Oscar 2010.
Vamos à repercussão desse fato, digamos, inusitado.


The New York Times
El País
Le Monde


"Well, the time has came". "El tiempo ha llegado". "Bom! L'heure est enfin venue". Ou, em bom português, "Enfim a hora chegou". Todas as matérias reproduziram a frase de Barbara Streisand no momento da entrega do prêmio de Melhor Direção para Kathryn Bigelow. No Le Monde, foi, inclusive, a primeira frase do texto, que num parágrafo mais a frente, touxe um panorama histórico, segundo o qual, desde a criação do Oscar, em 1929, essa foi a quarta indicação de uma mulher para a categoria (Bigelow foi precedida por Lina Wertmuller, Sofia Copolla e Jane Camplon), sendo a primeira vez que uma delas ganha e a primeira vez que uma produção dirigida por uma mulher ganha como Melhor Filme.


Tanto o NYT quanto o El País trouxeram a manchete do Oscar logo no topo da página. No Le Monde, eu tive que acionar o mecanismo de busca. Procurei matérias semelhantes para fazer a comparação, já que, no El País, por exemplo, havia uma lista de matérias relacionadas à premiação. Só com o nome da Bigelow no título tinham três. Dentre as que eu selecionei, a única que difere um pouco em centeúdo é a do NYT, que reuniu toda a cobertura em uma matéria muito longa e deu destaque à vitória de "Guerra ao Terror" no título.


O único que não citou nada sobre o enredo de "Guerra ao Terror", um filme sobre a atuação das tropas estadunidenses no Iraque, logicamente, foi o NYT. O jornal o colocou apenas como um "filme de guerra". 


Todos citaram o fato de "Gerra ao Terror" e "Avatar" serem os favoritos da noite, no entanto o primeiro superou o segundo, levando 6 estatuetas para casa, enquanto o concorrente levou apenas três. O curioso fato de os diretores dos filmes terem sido casados também foi bem explorado.


Ao final da leitura das matérias, cheguei a conclusão de que todos os veículos privilegiaram o filme de Bigelow. Colocaram a vitória como merecida. Não sei se fariam o mesmo com Avatar, caso tivesse ganhado como Melhor Filme. O fato é que, até mesmo o NYT, que sequer falou sobre o enredo da produção, se mostrou mais tendencioso a "Guerra ao Terror".  Algumas frases são até interessantes: 


"Se a academia queria atrair o público jovem com as dez indicações e os possíveis prêmios para Avatar, optou por enviar outra mensagem: 'Preferimos o cinema'" - frase final da matéria do El País. Dispensa explicações, não é? Claramente "acabou" com "Avatar", dizendo que o que foi produzido é qualquer coisa, menos cinema (talvez um jogo de video-game, como dizem por aí).


"Em certo sentido, a temporada de premiações se transformou num confronto entre James Cameron, que dirigiu Avatar, e a sra. Bigelow, que foi casada com Cameron" - The New York Times


"O filme de James Cameron se contentou com três estatuetas em categorias técnicas. A competição entre o blockbuster e o filme independente foi temperada pelo fato de Cameron e Bigelow terem sido casados" - Le Monde


O NYT trouxe uma informação que nenhum dos outros divulgou: Nicolas Chartier, produtor de "Guerra ao Terror", foi banido da apresentação por violar regras do Oscar e enviar e-mails para membros da academia incitando o voto conta "Avatar". A matéria do Le Monde apenas cita que Bigelow não esqueceu de agrader o produtor, que não estava presente. Mas não explicou o porquê.


Em suma, todos citaram, ou deixaram transparecer a opinião de que "Avatar" era um blockbuster 3D, recorde de bilheteria, com orçamento astronômico e favorito que perdeu para um filme pequeno, independente, dirigido por uma mulher. E que mesmo sendo um dos favoritos, a "zebra" na premiação foi justa.


Matérias à parte, o melhor foi assistir às reações da Kathryne!


Momento da entrega do prêmio de Melhor Direção


4 comentários:

Naissa Viana disse...

Vou confessar que ontem, quando assistia ao Oscar, uma das coisas que pensei foi: "A Tainá vai falar algo disso no blog".
Sério! Você está toda "cultural" nesse blog. E está muito bom. Adoro suas críticas.

Felps disse...

Eu já te disse que acho Guerra ao Terror excelente...
Mas é muita contradição do Oscar, tentar cada vez mais ser uma cerimônia pop e querer deixar os filmes "pop" de lado, uma vez que eles já deram a estatueta para Gladiador!
Além disso, Avatar é uma revolução no modo de se ver cinema! Acho que filme devia ter ido pra ele... e, diretor, tanto faz, pq o Cameron e a Kate trabalham bem parecidos (tlvz por isso o casamento não deu certo)...

Espero que as pessoas se interessem em ver Guerra ao Terror, que não é um filme de guerra, e sim um filme pra pensar um pouco no quanto vc tenta achar sentido naquilo que você faz para a dar sentido à sua própria vida!

Arthur Viggi disse...

Excelente texto!

Achei uma vitória merecida apesar de não ter visto metade dos filmes indicados. A Academia já deu muitos prêmios duvidosos, mas na minha opinião ontem eles foram muito justos. James Cameron tomou ferro, e merecidamente.

Avatar é um filme muito bom tecnicamente falando, mas nem tanto como entretenimento. E a Academia tende a deixar de lado filmes de "fantasia", exceto quando criam universos com enredos de qualidade inegável, como em Star Wars e Senhor dos Anéis.

13 anos depois da febre de Titanic, Cameron não se deu tão bem no Oscar. Fiquei muito feliz com isso. Avatar usou a alta tecnologia como principal arma para fazer um bom filme, quando esta mesma deveria ser apenas um complemento. O universo de Exterminador do Futuro, por exemplo, mostra a genialidade do diretor numa época onde os efeitos especiais e o orçamento eram bem menores.

A vitória de Kathryn sem dúvida representa a noite das mulheres no Oscar. E não é a primeira vez que um segmento social sobressai no evento. Lembra quando Denzel Washington levou o premio junto com Halle Berry, e ainda teve Oscar honorário para o Sidney Poitier?

Tainá Costa disse...

Obrigada pelos comentários, galera!

Confesso que quando escrevi o texto, não havia assistido nenhum dos dois filmes favoritos. Me baseei apenas no que li nas matérias.
Depois assisti Guerra ao Terror e gostei muito. Impressiona pensar que aquele filme foi dirigido por uma mulher.
Ainda não assisti Avatar. Pretendo assistir um dia. Mas não é o tipo de filme que enche meus olhos. E não acho que ele merecia ter ganhado o Oscar só pela inovação tecnológica que levou pras telonas.
#prontofalei!