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Chuva


Costumava fazer caminhada todos os dias, por volta das 17h30. Mas, nesse dia em especial, ficou na dúvida se iria ou não. O tempo estava feio. Havia chovido o dia todo. 
Quando deu a hora de sair, já não chovia mais. Resolveu ir. Mesmo com o tempo feio. Afinal, já havia chovido bastante. Deixou o apartamento esperando que a trégua durasse pelo menos a uma hora que ela gastava para percorrer o trajeto.
Com menos de cinco minutos de caminhada quem aparece? A chuva! Mas eram só algumas gotinhas fininhas. Decidiu continuar. Já estava ali mesmo... 
Então começou a reparar que mais ninguém estava fazendo exercícios. Normalmente ela sempre cruzava (no sentido de "passar por") com umas senhorinhas e uns bonitões sem camisa no caminho. Mas naquele dia parece que eles combinaram de não ir. Tavlez estivessem prevendo a chuva (o que não era uma tarefa muito difícil). Mas se eles combinaram, por que não a avisaram também? Que falta de colegorismo! Aí ela lembrou que conhecia aquelas pessoas só de vista. Como eles a avisariam alguma coisa?
A essa altura já havia vencido mais da metade do percurso de ida. Sua esperança era que pelo menos os peões desocupados que ficavam de plantão na beirada do calçadão estivessem lá para fazer "fiu fiu" e mexer com ela (nas primeiras vezes ela se sentia incomodada. Depois passou a ignorar. Mas vendo o deserto que estava o lugar, até sentiu falta). Reconsiderou e viu que era melhor assim. Ela havia saído de blusa branca, que já estava começando a ficar transparente, tipo gata molhada do Gugu. Era bom que eles não estivessem ali para ver a cena.
É. Estava deserto. A chuva apertou e todo mundo se escondeu. Mas, para ela, tanto fazia terminar de caminhar, ou voltar. Ela gastaria o mesmo tempo em ambas as possibilidades.
Só restaram os carros. Infelizmente. Você já deve imaginar por que, né?! Levou um banho de poça d'água. Desses bem dados. Com vontade. Provavelmente o motorista era um desses jovens engraçadinhos. Pelo estado da sua blusa branca, dava para constatar há quanto tempo aquelas ruas não eram nem varridas. Pensou pelo lado bom: pelo menos disfarça um pouco a transparência. E continuou.
Já estava no caminho de volta. Mas a chuva só piorava. O que ela podia fazer era rezar para nenhum raio atingi-la. Realmente Deus a protegeu. Mas a árvore uns 10 metros a sua frente não teve a mesma sorte. E agora? Ou pulava a árvore. Ou nadava na enxurrada. Preferiu a enxurrada. Estava toda suja daquela água marrom mesmo.
Estava acabando. Resolveu correr até o final. Péssima idéia. O concreto estava cheio de lodo. Escorregando mais que quiabo! Não precisa ser a mãe Diná para adivinhar o que aconteceu. Pois é. Se eborrachou no chão. Ralou o joelho e os cotovelos, igual quando tinha dez anos e andava de patins.
Desistiu. Viu que não tinha como lutar contra a natureza. Terminou sua caminhada calmamente. Fez seu alongamento sob a chuva torrencial como se fosse a coisa mais normal do mundo. As pessoas nos carros que passavam olhavam estranhando. Mas ela já não estava nem aí. Suja e machucada, foi para casa andando tranquilamente. Sabia que lá tomaria um banho e estaria abrigada da chuva e protegida por pára-raios.

2 comentários:

Felps disse...

Tainá, a maneira como vc escreve suas crônicas me lembram muito o livro que eu tow lendo...
Precisamos falar sobre ele!

Anônimo disse...

que desastre! ahAuauHUhauhaAHUhuaa