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Atentados no Iraque

A crítica de hoje traz a repercussão dos atentados terroristas que aconteceram hoje no Iraque, quatro dias antes das eleições para o legislativo. O ataque se deu em três etapas, com a explosão de dois carros bomba próximos a prédios do governo e, posteriormente, um homem bomba no hospital para onde estavam sendo levadas as vítimas dos ataques anteriores.
Aí estão os links das notícias:


A notícia publicada no site do NYT trouxe mais dramaticidade ao assunto. Com o depoimento de duas testemunhas, a descrição ficou mais intensa. Durante toda a matéria o jornal não poupou críticas ao sistema de segurança iraquiano, culpando os atentados à sua ineficiência. Para deixar a "alfinetada" mais real, no final da matéria há um depoimento de um conselheiro de província reclamando da atuação dos oficiais de segurança, que sabiam que o país enfrentaria eleições tumultuadas e deveriam ter tomado medidas preventivas. A matéria diz que providências, como toque de recolher e a proibição de circulação de veículos pelas ruas, entrarão em vigor. Durante o texto, o repórter cita a Al Qaeda, que, de acordo com oficiais militares estadunidenses, estaria realizando recrutamento na região. No depoimento do conselheiro de província, citado acima, também há o nome da organização fundamentalista islâmica, relacionando-a com os acontecimentos. Mas tudo entre aspas, "na boca" da fonte (teoricamente isentando o veículo da acusação). O texto ressalta que a violência que assola o país está "minando a confiança pública nas forças de segurança do Iraque". Uma matéria fraca. Emotiva e sem informações necessárias, como vocês verão adiante.

A reportagem do El País tem um primeiro parágrafo mais elaborado, explicando melhor a situação. Ressalta que esse foi o atentado mais grave desde o início das campanhas eleitorais. E diz que o fato constitui um golpe para a política de segurança do primeiro ministro, Nuri al Maliki, como um sinal de abertura das feridas da recente guerra civil. A conotação que o jornal dá para a Al Qaeda é diferente do NYT. Este coloca o nome da organização de forma "sem contexto", citando, a princípio, apenas a questão do recrutamento. Mas não deixa claro se o atentado foi de autoria da Al Qaeda ou não (apenas induz a conclusão do leitor). Já o El País afirma que nenhum grupo assumiu a autoria dos atentados, mas supõe-se que a culpa seja da Al Qaeda. O texto explica que o objetivo dos sunitas, prováveis autores, é atingir as forças de segurança, comandadas pelos xiitas desde a derrocada de Sadam Hussein. O texto do NYT sequer cita Sadam Hussein (por que será?). Enquanto no El País, o nome aparece pelo menos duas vezes na matéria. Um parágrafo é dedicado a resgatar o conflito entre sunitas e xiitas, principal motivo dos atentados, e descreve que a violência dos anos passados confinou as pessoas em seus grupos, deixando-as pouco à vontade para transitar em outros meios. O veículo diz ainda que as eleições definem quem governará o país quando os EUA retirarem suas tropas do território, no ano que vem. O que também não é citado no NYT. E traduz o atentado como sendo, para os xiitas, um sinal de que existem extremistas sunitas que não estão dispostos a aceitar sua posição política. E para os sunitas, que a violência é uma opção. Um retranca trata da fragmentação política do país e da luta dos grupos para ter representatividade no governo. Não deu muita ênfase às medidas de segurança que serão tomadas, nem à falta de segurança do país causa medo na população, como fez o NYT. Se prendeu mais à análise do conflito.

Como todos os outros, o Le Monde trouxe uma descrição dos acontecimentos. E falou das medidas de segurança implantadas. A matéria traz uma fala do conselheiro do primeiro ministro iraquiano, colocando os atentados como uma tentativa de impedir as eleições. O diário francês diz que a eleição para o legislativo é a segunda desde a queda do regime de Sadam; cita alguns dados do pleito e a retirada das tropas estadunidenses do território iraquiano. O final da matéria fala sobre um atentado a chiitas acontecido em 5 de fevereiro. E começa o último parágrafo com a seguinte citação: "(nós nos) comprometemos a perturbar a eleição por todos os meios possíveis, principalmente por meios militares", alertou o chefe da Al-Qaeda no Iraque, Abu Omar al-Baghdadi, em uma mensagem de áudio divulgada 12 de fevereiro. Com a intenção clara de atribuir os atentados a Al Qaeda. Nem ao céu, nem à Terra. Nenhum relato emocionado e nenhuma grande análise do conflito. 
O que se pede não é muito. Uma matéria sem omitir informações que são imprescindíveis para o bom entendimento do leitor, dando elementos para a formação de sua opinião. Como foi feito no El País e mesmo no Le Monde. E não induzir conclusões, como fez o NYT.

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