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O acordo sai ou não sai?

A crítica jornalística de hoje foi feita com base nas notícias sobre o anúncio, feito ontem, de um acordo nuclear entre Estados Unidos e Rússia. Cada jornal pegou um gancho diferente para tratar do assunto. O NYT, jornal que circula em um dos países envolvidos no fato, trata do tema com foco na visão russa. Tanto, que o nome do presidente Obama aparece apenas uma vez na matéria: no título. O El País trata dos benefícios e avanços do acordo, e das  dificuldades de sua execução. O Le Monde trouxe um texto pequeno, também falando das vantagens do tratado. Vamo às notícias


The New York Times
El País
Le Monde


O El País começa a notícia de forma otimista, dizendo que Obama anunciou um tratado que deixa o mundo mais seguro. O Novo Start, nome dado ao acordo, permitirá a eliminação de 30% dos arsenais atômicos de Estados Unidos e Rússia. O jornal ressaltou que o tratado serve para solidificar o clima de cooperação entre os dois países. Explicou que o Novo Start substitui um acordo assinado em 1991 por Mijaíl Gorbachov e George Bush e é uma prova de que os países resolveram trabalhar pela paz. O que contribui para a respeitabilidade da Rússia e eleva o prestigio Obama. Mais a frente o jornal pondera que o caminho que vem pela frente é difícil e não é garantido que o tratado chegue a ser colocado em prática algum dia. Um dos motivos é que o documento precisa passar pela aprovação do senado dos EUA.


Obama transmitiu uma mensagem positiva e citou vários políticos que apoiam a causa. Mas não disse que a polêmica da reforma do sistema de saúde pode atrapalhar. Por causa das mudanças que o Obama que implementar na política de saúde dos EUA, muitos republicanos admitiram publicamente que não apoiam o presidente em causa alguma. Outro grupo que pode atrapalhar são os conservadores, que acreditam que o acordo pode enfraquecer as defesas da nação. Todavia, o tratado é uma forma de cobrar colaboração de outros países, como Irã e Coréia do Norte.

Apesar da matéria pequena, o Le Monde trouxe informações que não estavam em nenhum dos outros dois jornais, mais preocupados com análise do fato. Informação 1: o acordo pode limitar as 1550 o número de ogivas nucleares nos países. Informação 2: o tratado será firmado no dia oito de abril, em Praga. A data não foi escolhida aleatoreamente. Ela marca o "quase" aniversário do discurso que Obama fez dia 5 de abril de 2009, na capital tcheca, sobre sua visão da desnuclearização [se é que essa palavra existe. Foi a tradução que eu dei para o francês "dénucléarisé"]. Traz a mesma análise do El País, de que o acordo é uma etapa importante na aproximação dos EUA e da Rússia

Já o NYT, surpreendentemete [pelo menos pra mim!] traz a visão russa do tratado. Mas essa opção pode ser explicada pelo enfoque dado à notícia. Logo na primeira frase da matéria é possível entender:  Moscow seemed to have its mind on other things. O jornal diz que nenhuma alta autoridade russa se pronunciou sobre o assunto, porque estavam ocupados com assuntos como enchentes de primavera e o desempenho de atletas nos jogos de Vancouver. A maior autoridade a falar sobre o assunto foi o Ministro das Relações Exteriores, Sergey V. Lavrov. Mesmo assim, de acordo com o jornal, foi uma reunião às pressas com a imprensa na hora do jantar. O ministro chamou o acordo de "real progresso" nas relações entre EUA E Rússia. Mas acrescentou que o país poderia "pular fora" se concluísse que os planos de defesa anti-mísses americanos comprometem a sua dissuasão nuclear. Alguns questionamentos de autoridades russas 
são expostos na matéria, como: “Should we have signed a treaty which does not give us any kind of serious guarantee?” “This is something which will be debated”. Mais a frente acrescenta: uma razão para cautela dos russos é a votação no senado, onde qualquer sinal de triunfalismo russo pode "pegar mal".

Ou seja, parece que o jornal americano pretendia demonstrar para a população que a Rússia não está totalmente de acordo como o tratado. Existem muitas divergências e os russos não vão aceitar sair prejudicados. O que não deixa de ser verdade. Mas bem que o NYT poderia ter colaborado e mostrado mais vantagens do acordo, que ficaram ofuscadas no texto. Dessa maneira, mais uma vez, o jornal induz a conclusão do leitor. Que pode, por ventura, formar sua opinião contra o Start, com base nos inúmeros motivos que os russos têm para não cumprir o tratado.




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