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Estrelas

Era de noite. Ela andava pelas ruas procurando um lugar de onde pudesse ver o céu em meio aos prédios enormes da cidade. Estava cansada daquelas luzes, letreiros, propagandas. Estava cansada de olhar para cima e enxergar o teto do apartamento. Até colou daqueles adesivos que brilham no escuro, em formato de estrela, no teto do seu quarto. Às vezes ficava olhando e pensando na vida antes de dormir. Mas não era a mesma coisa. Aquilo acabava a fazendo lembrar da quantidade de coisas em sua vida que foram substituídas por outras que não surtiam o mesmo efeito. Eram imitação barata. Só o que queria era um pouco de ar puro. Poder sentir a brisa no rosto enquanto olhava as estrelas no céu. Era pedir muito? Parece que sim. Pois por onde andava era possível enxergar apenas uma frestinha do céu em meio aos edifícios. Será que mais ninguém gostava de ver o céu? Por que deixavam fazer construções tão altas que tampavam uma das coisas mais bonitas que existem? Não conseguia entender. Andou. Andou. Andou. Até que encontrou um clarão em meio aos arracéus. Era um campo de futebol. Estava bem movimentado. Bastante gente na entrada. Quis conferir o que estava acontecendo. Talvez aquele fosse o lugar ideal. Parecia que o jogo já havia acabado, pois viu o que pareciam ser pessoas uniformizadas saindo de campo. Resolveu esperar que todos fossem embora, pois sabia que ali conseguiria ver uma extensão maior de céu do que em qualquer outro lugar da cidade. Enquanto esperava, ficou tercendo para que desligassem os refletores. Se não, não adiantaria nada. Veria o céu. Mas neca de estrelas. Não demorou e ficou tudo escuro. Na arquibancada ainda havia bastante gente. Não se importou. Pulou a muretinha sem grandes dificuldades e caiu no campo. Logo olhou pra cima e Uau! Quantas estrelas! Se deitou. Não demorou muito, começou a ouvir o barulho de crianças. Achou elas estavam aproveitando que o campo estava livre para brinca um pouco. Nem se importou muito. Continuou sua contemplação so céu. Como o barulho vinha se proximando, resolveu mudar de lugar. De repente uma moça se aproxima . “Você que é a estagiária da segunda-série que veio ajudar a organizar as crianças?” Ela não entendeu nada. Estagiária? Crianças? De onde surgiu essa mulher? Sem esperar resposta, a tal moça entregou a ela uma turma de crianças de uns sete anos de idade. “Aqui estão eles. Ainda bem que você veio. A professora Marilda estava preocupadíssima com a apresentação. Queria vir mesmo passando mal, acredita?” Apresentação? Como assim? Não deu tempo de recuperar o fôlego para responder. A mulher deu as costas e foi em direção a um outro grupo de crianças que se aproximava. Atônita, ela segurou a mão das primeiras crianças da fila e foi andando para frente acompanhando o fluxo. Pensou em sair correndo. Mas como ela deixaria aquelas vinte crianças ali? Sem saber que atitude tomar, perguntou para o primeiro da fila se ele sabia o que fazer. Ele disse que já haviam ensaiado muitas vezes e já sabia de cor a coreografia do show. Naquela noite, as últimas estrelas que ela viu, estavam no chão. Dançando na festinha de encerramento do ano letivo.

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